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Carta aberta à Fenaj e a Emílio Azevedo…

Por Rafaela Marques

No fim da última segunda-feira, a imprensa do Maranhão ficou em choque com a notícia do assassinato do jornalista Décio Sá, um de nossos nomes mais atuantes na reportagem de política e possivelmente o mais conhecido blogueiro. A repercussão internacional desta violência acontecida em nosso estado nos envergonha e entristece. Eu, jornalista por formação, sinto-me ultrajada.

A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) publicou justa nota, que eu mesma reproduzi entre amigos, bem como várias outras entidades representativas de classe e grupos de defesa de nossa profissão, a exemplo da ONG Repórteres sem Fronteiras.

Hoje, qual não foi a minha surpresa ao receber uma atualização da página da FENAJ no Facebook, em que uma matéria da “Rádio Brasil Atual”, foram colocadas lado a lado as declarações concedidas em entrevista por Celso Augusto Schröder, presidente desta entidade, a outras afirmações feitas por um senhor chamado Emílio Azevedo, do inexpressivo jornal maranhense “Vias de Fato”.

O senhor Emílio declara que o assassinato de Décio Sá é “reflexo do ambiente pouco civilizado da região” e que aqui “prevalece a barbárie”.

Não conheço o senhor Emílio, mas gostaria de deixar claro a minha indignação em vê-lo repetir chavões preconceituosos difundidos largamente na internet sobre o estado em que nasci, cresci e me tornei jornalista.

Entretanto, o que mais me choca é que uma entidade como a FENAJ, símbolo máximo do que deve ser a representação de uma classe ainda violentada, cede espaço para a repercussão de um conteúdo leviano como este.

Enfatizo: não me sinto em um estado de barbárie, embora o assassinato de Décio Sá seja, de fato, uma barbaridade. Não convivo com pessoas pouco civilizadas, mas infelizmente, entre nós, existe uma mente rasa como a do senhor Emílio Azevedo, que, suponho, sente-se envaidecida de conceder entrevista – quando deveria preferir entrevistar. Considero a declaração repercutida pela FENAJ de extremo mau gosto, um acinte e um desrespeito aos profissionais desta região, que estudaram teorias do jornalismo, que todos os dias buscam a Verdade, enquanto paradigma filosófico e enquanto subsídio para seu trabalho diário de servir a sociedade.

Repudio veementemente o cenário que vejo: num momento em que todos lamentam a situação vivenciada, se afirmam velhos preconceitos. Neste momento, estou envergonhada. Não de viver num estado em que “prevalece a barbárie” e de conviver com pessoas “pouco civilizadas”, mas da violência que vitimou Décio Sá, da FENAJ e do senhor Emílio Azevedo.

Certamente o autor desta declaração considera o Maranhão um estado “pouco civilizado” porque não alcançou qualquer projeção em seu meio profissional. A ele, minha sincera rejeição. Sobre a “Rádio Brasil Atual”, recomendo mais cuidado na escolha da fonte e um maior apuro das informações colocadas em suas matérias.

Lamento, por fim, que num momento em que lutamos pelo o reestabelecimento da exigência do diploma para o exercício do jornalismo, profissionais atuem deixando claro que lições como não foram aprendidas numa Universidade.

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