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Lições de uma morte…

Por João Melo e Sousa Bentivi

Essa crônica pode estar velha no dia da publicação. Escrevo-a na sexta, será publicada domingo e, nesse tempo, todas as notícias podem ter se tornado velhas. O que resta esperar é que o envelhecimento seja construtivo.

Morreu o jornalista Décio Sá. Aliás, não morreu, mataram-no, foi assassinado!

Conheci o Décio criança, fomos criados no mesmo bairro, o antigo Barés, hoje tristemente incorporado pela imundície da Feira do João Paulo. Como todos nós, do Barés, de origem humilde.

  A vida lhe foi pródiga: venceu.

Não tínhamos relações de intimidade, até porque a diferença de idade entre nós pouco permitiu de convivência e, no desenrolar de nossas vidas, trilhamos caminhos bem opostos. Por motivos ideológicos e profissionais, Décio Sá, desde cedo, vinculou-se à estrutura Mirante-Sarney e eu, por meus motivos, caminhei exatamente ao contrário, nunca estive nem próximo a essa nau. Graças a Deus!

Isso não fez de nenhum de nós melhor ou pior, fez-nos, pura e simplesmente, diferentes.

Muita gente reclama dos jornalistas que defendem posições, como era o caso do Décio Sá e eu sempre acho hipócritas aqueles que se vangloriam de fazer o “tal jornalismo imparcial”. Jornalismo imparcial seria o mesmo que comida insossa ou água morna: nem serve para beber, tampouco pela um porco: toucinho cabeludo nunca fez sucesso!

O jornalista que faz bem para a sociedade tem que ter a contundência da parcialidade. Parcialidade não rima, necessariamente, com malandragem, rima com ter um lado político, econômico ou ideológico. É melhor ter um lado e assumi-lo que ficar se posicionando de maneira sutil e hipócrita.

O meu saudoso mestre e amigo José Maria do Amaral ensinou-me que quem não tem inimigos também não pode fazer amigos. Desconfie-se, pois, desse tipo de indivíduo que diz ter somente amigos: ou é mentiroso ou não vale nada. Melhor que seja mentiroso.

O Décio Sá foi morto a mando de um ou mais inimigos e daí sobram lições.

Creio que não tomava os devidos cuidados com as pessoas que tinha certeza de tê-las incomodado. Posso estar errado, mas ser da equipe Mirante, próxima ao núcleo central do governo do Maranhão, deveria lhe dar uma certa sensação de segurança.

A segunda lição é que a insegurança, em vez de ser exceção, é regra no Maranhão. Os fatos afirmam:

Não era um jornalista qualquer. Era um dos mais lidos, da maior rede de comunicação do estado, amigo das mais altas autoridades, incluindo a governadora e José Sarney.

Com todos esses predicados, os assassinos o mataram em um restaurante lotado, cedo da noite, sem capuz ou disfarce, com a certeza da impunidade.

A terceira lição mostra a deterioração das relações sociais. Nunca advoguei a farsa social que canoniza o morto, principalmente se a morte é violenta, mas é inadmissível detratar-se do morto, qualquer que seja o motivo, ainda que relevante, pois o morto tem a incapacidade absoluta de defender-se e, assim procedendo, se estará promovendo pelo menos uma absoluta covardia.

A quarta lição é uma equação em aberto: o governo tem a maior de todas as obrigações – prender executores e mandantes.

Os outros assassinos de aluguel (que no Maranhão, acredita-se, são muitos) estão vendo o rio passar. Caso a morte do Décio Sá fique na impunidade, será um grande combustível a encorajar os crimes de encomenda. A impunidade da morte do Décio Sá fará com que qualquer motivo, mesmo banal, atinja a condição de relevância para a execução de alguém.

Encontrar, prender, julgar e colocar na cadeia esses facínoras é condição de segurança pública. Alguém, desavisado, diria: só porque é da Mirante? Não, nesse caso não se trata de Mirante ou um jornalzinho casca de coco: o fato independe do veículo.

Assim, espera-se que, desse triste drama, sobre algo de relevância. Que os sentimentos menores não se externem. Que os facínoras recebam o merecido e que outros jornalistas não tombem de maneira tão violenta.

Na adolescência, li um livro – A Marca da Violência – e não recordo o nome do autor, mas uma frase desse livro me marca até hoje: “o nascer é o início da vida, o morrer é o fim, mas uma morte violenta é um fim antes do fim”.

Creio que se aplica ao Décio Sá!…

Bentivi é médico otorrino e legista, jornalista, advogado, professor e músico

Marco Aurélio D'Eça

7 Comments

  1. Senhor Marcos Deça, é muito triste ver o que acontece na nossa terra.Antes do meu comentário, aquí vai um conselho: cuidado meu caro, cuidado.O Decio Sá e você são vitrine do jornalismo investigativo e as vezes surpreendente, pois o que publicam de quando em vez arranha até os interesses do poder constituido, O famoso Stanislaw Ponte Preta na sua genialidade dizia: “Instaure-se a moralidade ou nos locupletemos todos”” .Aqui ela nunca foi instaurada e o verbo locupletar é amplamente conjugado nos 3 poderes.A Senhora Governadora perdeu, se é que algum dia teve, o apetite para governar ou atravessa um sério problema existencial, pois tirando 3 técnicos de fora que dirigem o planejamento, as finanças e a educação, o resto é brincadeira e desrespeito com quem tem um mínimo de conhecimento de gestão pública .Entregar a Ciência do Maranhão à uma simples amiga secretária, é um desrespeito aos que ensinam e fazem ciência no Maranhão.As outras secretarias não passam de cabides de empregos políticos, pois NÃO EXISTE UM PLANO DE GOVÊRNO.Cada um tem um projeto pessoal de……..A própria Governadora não tem coragem de participar de nada, delega poderes aos poucos que podem falar alguma coisa, ou leva um papel redigido por alguém para ler em reunioes de trabalho.Há poucos dias no proprio jornal da familia Sarney, um dos mais brilhantes intelectuais do Maranhão, o Dr Joaquim Itapary, em artigo que marcará os 400 anos da nossa cidade, mostrou a triste realidade: a morte de tudo no Maranhão.A inversão de valores é regra.Um inexperiente agente de polícia comanda delegados formados, uma secretária executiva ídem, comanda a ciência e tecnologia, um politico profissional cpomanda a saúde, o resto ninguém nem fala….Leia os jornais de 3 anos atrás e aí vemos que os problemas não foram solucionados, mas ao contrário, aumentaram.Segurança, Educação, Saúde, Água e a lenga lenga de Italuís cuja solução o secretário Murad prometeu na primeira semana do primeiro governo junto com 72 hospitais hospitais.Governadora,se a senhora cansou, ou a sua saúde não permite, jogue o boné e deixe que sangue novo assuma o Maranhão. Convide o Sr João Castelo a fazer o mesmo pois se demorar mais, os maranhenses bem intencionados já zarparam e nossa terra será comandada pelas empresas e grupos que aqui já chegaram.Que Deus nos proteja para alguém de pulso possa fazer o que os poucos que ainda sonham, almejam para o Maranhão.
    Um abraço do Gilbeto Carvalho

  2. esse é o professor bem te vi tudo simples e de forma correta. também me solidarizo ao tema. é preciso também que jornalistas e blogueiros, repensem a sua forma de trazer a informação, cito o exemplo de walter rodrigues, “jogava duro , mais era na bola”, como ele mesmo dizia. não se pode simplesmente por qualquer motivo desferir golpes jornalisticos mortais que ultrapassam o transgressor e passa atingir a familia, não se pode permitir e aceitar que pessoas passem a ser agredidas com comentários em aberto, o que com certeza provoca a ira e 98% dos atingidos. pode surgir a premissa, erra e comete crime e não quer que se divulgue, não é isso, é a forma pejorativa e achincalhamentos técnicos que causam o ódio. e o verdadeiro jornalista tem lado e sabe ser técnico, sem despertar o ódio em seu antagonista. falando sério o que já ouvi de reclamções de postagem de blogs em são luis, não é brincadeira. a ponto do comentarista politico (fernandes) do bom dia maranhão achar um absurdo a valorização de blogs, porque no sul do pais blog já é coisa do passado.

  3. Meu querido e antigo mestre do colégio maristas, Bentivi, grande, fala pq sfreu na pele todos os preconceitos e com estudo e trabalho venceu na vida. Parabéns mestre, realmente a execução do Décio Sá é sem comentários, se ele que era protegido dos sarneys morreu. Imagine o resto do povo, cadê o policiamento? só resta morrer nessa cidade e não morrer de amor, mas de pavor, desespero.

  4. Com certeza este foi o texto mais lúcido, até o momento, sobre a tragédia sofrida por Décio Sá.

  5. “nesse caso não se trata de Mirante ou um jornalzinho casca de coco: o fato independe do veículo.”
    Prof. Bentivi.
    É isso que alguns imbecis – da laia do Pedrosa (OAB)- não conseguem perceber.

  6. Parabens, Bentivi. Nao temos que nos acovardar e nem mudar nossos habitos. Aos profissionais de imprensa e blogueiros, o nosso dever de contribuir com comentarios diretos, reforcando a liberdade de imprensa. Nosso povo agradece.

  7. Mais uma vez campeão brasileiro de clubes de natação… flamengo não eh so futebol é uma alternativa de sociedade contra mazelas da sociedade! voltamos a ter hegemonia nessa modalidade!

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