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O que é perseguição?

Por Aline Alencar

A palavra perseguição aqui não será tratada apenas na sua etimologia, mas sim na sua semântica. Se pesquisarmos o sentido de perseguição, encontraremos uma das seguintes explicações no site da Wikipedia, resumida abaixo:

“Perseguição consiste num conjunto de ações repressivas realizadas por um grupo específico sobre outro, do qual se demarca por determinadas características religiosas, culturais, políticas ou étnicas. (…) A perseguição implica, geralmente, a proibição oficial de determinadas ideologias e/ou crenças por parte da maioria, de modo a não permitir o desenvolvimento do grupo minoritário que pode ser considerado perigoso, subversivo, violento ou capaz de obter poder e, assim, ameaçar o status quo adquirido. Por vezes, elementos da maioria perseguidora (mesmo que não concordem, pessoalmente, com a perseguição) são alvo de represálias por parte da minoria, o que origina um círculo vicioso gerador de violência e serve como justificação para os atos persecutórios da maioria.”

Pois esta explicação poderia servir muito bem de avaliação para o contexto atual em que o Brasil vive: a era da perseguição inversa. Inversa porque, por exemplo, é comum um grupo de brancos, tido como maioria em questões de poder, perseguir um grupo de negros, no caso a minoria, apesar da grande quantidade no país, e não o contrário.

Agora, atualmente o que se vê são reclamações invertidas: brancos reclamam de perseguição por parte dos negros, religiosos reclamam de perseguição por parte daqueles que têm outras crenças ou não tem algumas, também religiosos que reclamam de uma chamada “ditadura gay” , alguns homens reclamando que estão perdendo seus espaços para as mulheres, chegando até a decidir o que cada uma deve fazer com o seu corpo e pessoas da classe média alta reclamando da popularização de produtos que antes só quem tinha capital poderia obter.

Como diz na explicação da Wikipedia, essa inversão gera um círculo vicioso de violência: a maioria agride a minoria; a minoria revida a agressão contra a maioria. Contudo, exagera-se em uma maioria reclamar em demasia de perseguição.

Não está se dizendo aqui que é louvável um ateu perseguir um evangélico, por exemplo. Mas paremos para pensar no grau de intensidade de uma perseguição para a outra: quem muito apanha, ou se mantém calado ou revida na mesma moeda; às vezes com exagero, tudo por cansaço ao se ver acuado sempre.

No fim, tudo se transforma no imenso mimo de quem não sabe o que é realmente se sentir excluído socialmente por ser apenas o que é desde sempre. No Brasil, aquele que está incluso nos padrões morais, jamais soube o que é ser perseguido ou discriminado de fato, pois sempre teve seus direitos garantidos antes mesmo de nascer. Esta pessoa não sabe o que é se sentir desprotegido pela lei (e aqui não se fala no contexto geral de uma lei que muitas vezes é falha, mas sim de uma lei inexistente que poderia garantir que minorias pudessem viver dignamente).

O assunto é extenso, preocupante e, sobretudo, polêmico. Orgulho de ser o que se é, todo mundo tem e deve ter, mas no cansaço da luta, às vezes se sente vontade de ser “igual” a todos, por desacreditar em uma tolerância, uma convivência pacífica entre diferenças, afinal. Chega, infelizmente, algum dia na vida em que você acorda e deseja apenas ser branco ou rico ou cristão ou homem ou hétero, porque ai todo sofrimento teria fim, ao menos nestes aspectos.

Então, antes de reclamar e afirmar que está sendo perseguido, humilhado e/ou discriminado pare e pense se você algum dia cogitou estas opções. Caso nenhuma delas passou pela sua cabeça, justamento pelo fato de você não se encaixar no contexto de minoria, agradeça, seja a Deus, a Oxalá, Alá, ou somente agradeça, pois boa parte dos seus problemas já nasceram resolvidos. Pelo menos neste país bonito por natureza.

* Texto inspirados nos vídeos “Rachel Sheherazade sobre a frase ‘Deus seja louvado’ nas cédulas de Real“; “Gays, Espinafre e Cabras – VEJA” e “Marcelo Adnet ironiza eleitores elitistas no Comédia MTV“.
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