Perito contratado por agiota aponta falhas na transcrição do Icrim e afirma que a polícia interpretou de forma errada trechos da conversa, levando à incriminação de Gláucio Alencar
Contratado por Gláucio Alencar para transcrever, na íntegra, o áudio de uma gravação que o agiota fez de uma conversa com Júnior Bolinha, o perito criminal aposentado Ricardo Molina – considerado um dos mais importantes do país – afirmou em seu relatório que a degravação do mesmo áudio, feita pela polícia, apontou sentido oposto do real em alguns trechos da gravação.
– Há algumas palavras e expressões que foram incorretamente transcritas [no laudo da polícia]. A transcrição aqui apresentada corrige alguns desses erros – afirmou Molina.
Um dos trechos destacados no laudo do perito, a que este blog teve acesso, questiona exatamente a parte da transcrição que a polícia tem como uma espécie de confirmação de Gláucio para Bolinha de sua participação no assassinato do empresário Fábio Brasil.
Na transcrição da polícia, a que esse blog também teve acesso, a afirmação do agiota ficou assim:
– Isso aqui, só que vai ter que acontecer, eu já tô me movimentando com o advogado [ininteligível] na delegacia que fui eu que fiz isso aqui, porra.
Em sua transcrição, além de corrigir os trechos que considerou mal transcritos, Molina afirma ter conseguido decifrar a parte considerada ininteligível pela polícia maranhense.
Todo o trecho, segundo o seu laudo, ficou assim:
– isso aqui, sabe o quê que vai acontecer?…já tou me movimentando com o advogado, por que essa mulher, com certeza, vai falar na delegacia que fui eu que fiz isso aqui, porra…
Para Ricardo Molina, o erro da polícia pode levar a uma interpretação equivocada sobre a participação de Gláucio Alencar no assassinato.
– A interpretação pode, na verdade, ser a oposta ao sentido intencionado pelo falante, o qual não afirma algo como “fui eu que fiz”, mas sim que “a mulher vai dizer na delegacia que fui eu que fiz”.
O perito chega a questionar o fato de a polícia ter transcrito trechos mais difíceis e não ter se atentado justamente neste. E completa:
– Sob esta ótica, é lícito afirmar que o contexto da conversação não permite inferir, em nenhum momento, que o interlocutor citado no quesito afirma ou admita ter ordenado alguma execução. Seus comentários, na verdade, vão na direção oposta, significando uma crítica ao ato supostamente praticado e frisando que teria dito por ele para que não se fizesse o que foi feito. (Grifo do documento).
É preciso dizer que o laudo de Ricardo Molina foi contratado pelo próprio Gláucio.
Que não se conformou com o laudo da polícia maranhense…