O secretário de Segurança Pública Aluisio Mendes disse ontem ao jornalista Jorge Aragão – em matéria reproduzida hoje pelo jornal O EstadoMaranhão – que as revelações do assassino Jhonatan Souza à Justiça não comprometem a investigação da polícia no caso Décio Sá.
É uma bravata do secretário.
Aluisio sabe que errou na condução do inquérito e sabe que isso pode comprometer toda a elucidação do assassinato do jornalista, sejam ou não os acusados os verdadeiros culpados.
E errou por que não fechou todas as portas da investigação, deixando margem para que os acusados pudessem, no mínimo, colocar dúvidas em relação a quem mandou matar – repita-se: sejam eles culpados ou não.
Um dos erros da Secretaria de Segurança foi não ouvir o empresário Pedro Teles.
Teles teve uma conversa com Júnior Bolinha dias antes da morte de Décio Sá. Júnior Bolinha também conversou com ele duas vezes, por telefone, no dia da morte de Décio, e outra vez na manhã do dia seguinte.
Mesmo assim, a polícia não quis ouvir o empresário.
A polícia ouviu, mais de uma vez, gente que nada tinha a ver com o caso e teve a infelicidade de ser citado em um dos depoimentos ou estava na lista de ligações de Décio.
Mas se recusou a ouvir Pedro Teles.
A polícia quis investigar até o deputado Raimundo Cutrim (PSD) pelo fato de Jhonatan de Sousa ter citado seu nome em um dos depoimentos – e só não conseguiu por que precisava da autorização do Tribunal de Justiça.
Mas se recusou a ouvir Pedro Teles.
Joab Jeremias é um militante do PT maranhense, que foi ouvido duas vezes pela polícia e teve o sigilo telefônico quebrado, apenas pelo fato de que falou com Décio antes de sua morte.
Mas a polícia não se interessou em ouvir o empresário Pedro Teles.
Não se quer dizer aqui que o empresário de Barra do Corda seja o culpado pela morte de Décio ou tenha algum envolvimento com o crime.
Não! Nada disso!
Mas a polícia precisava esclarecer cada ponto da investigação – sobretudo as ligações entre ele e Júnior Bolinha – até para ter mais segurança na linha que decidiu adotar.
E foi justamente por não ter feito o dever de casa que Aluísio Mendes pode ter colocado tudo a perder no caso Décio.
Ao não esgotar a linha “Barra do Corda”, a polícia deu margem para que os advogados de Gláucio Alencar fizessem tal questionamento, que hoje é a base da defesa.
Ora, se não existe nenhuma matéria de Décio Sá contra Gláucio Alencar e existem mais de 40 contra Pedro Teles, por que Aluísio apressou-se em dar salvo conduto ao empresário? Se não existe nenhuma ligação de Júnior Bolinha para Gláucio nas horas primeiras entre a morte e o sepultamento de Décio e existem três ligações de Bolinha para Pedro Teles, por que Aluísio Mendes recusou-se a ouvir o empresario de Barra do Corda?
São estes os erros de Aluísio Mendes. E estes erros estão sendo usados pela defesa de Gláucio.
Este blog nunca disse que Gláucio seja inocente.
Pelo contrário, há vários indícios contra ele. Há vários elos entre ele e os demais envolvidos no caso. Há indícios de relação dele com bandidos já reconhecidos da polícia.
Mas são ainda indícios, que o secretário de Segurança tinha obrigação de transformar em provas cabais e não as fez, abrindo possibilidades para a defesa.
É bom lembrar que não será a polícia quem vai julgar os acusados do caso Décio, mas provavelmente um juri popular, formado por pessoas comuns do povo, que estarão acompanhando tudo a partir daquele momento, com a apresentação da peça pelo Ministério Público – que se baseia no relatório da polícia, com todas as suas falhas – e com os argumentos da defesa, que atacarão exatamente estas falhas.
Ah, mas os delegados também serão ouvidos!, podem dizer o defensores da tese de Aluisio Mendes.
É verdade, mas como responderão à pergunta sobre a recusa em ouvir Pedro Teles? Como responderão à pergunta da falta de ligação entre Bolinha e Gláucio? Como responderão à pergunta sobre a negativa de Jhonatan de Sousa de que conhecia Cutrim e Fábio Capita? Jhonatan de Sousa mentiu em seu depoimento à polícia ou nas declarações à Justiça?
E, principalmente, como explicarão a gravação em que Aluisio, ao referir-se a outro caso de Barra do Corda, é flagrado em gravação involuntária na qual parece orientar um auxiliar a não envolver político com o crime?
São dúvidas, que levam os jurados – seja eles quem for – a refletir sobre a possibilidade, e o risco, de errar no julgamento. E tudo isso por culpa da ineficiência e do açodamento do secretário na elucidação do caso.
Este blog encerra aqui a cobertura do caso Décio Sá, e vai aguardar o julgamento do Juri, quando – e se – este acontecer.
E no Juri, a sociedade, os leitores, a imprensa e a população poderá saber quem estava mais próximo da coerência: se este blog, com suas observações sobre o caso; ou o secretário Aluísio Mendes, com suas bravatas e figuras de retórica.
É aguardar e conferir…