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Dudu, 25 anos de vida!!!

Liane de Jesus Rabelo de Souza

Essa história, boa de se contar!

Hoje, meu filho, dia 28 de outubro, você completa 25 anos e tua história é boa de se contar, você sem mesmo conseguir sair do lugar, porque seus movimentos são impedidos por conta da Paralisia Cerebral que impede você de fazer tantas ações as mais simples possíveis, mas consegue chegar em lugares que o homem não consegue, “o coração”.

Carlos Eduardo, chamado por todos de Dudu, chegou à fase adulta, sempre com aquele mesmo sorriso, com aquela mesma alegria, tentando dizer ao mundo que a deficiência não te define e nem te limita, que você faz coisas inimagináveis, que é feliz e que as pessoas não entendem que felicidade é essa, e você não se importa, porque o entendimento é o que menos interessa, o que interessa é ser feliz.

São 25 anos de vida e o homem não aprendeu a conviver, a respeitar o jeito de ser de cada um; Dudu não é diferente por ser uma pessoa com paralisia cerebral, ele é diferente, por ser pessoa que sente, ama, que deseja e todos nós temos nosso jeito de ser, de fazer, de construir e de ter a nossa própria história; a deficiência não impede ninguém de viver como pessoa e exercer sua cidadania.

Dudu e sua inseparável camisa do Sampaio Corrêa: torcedor fiel…

Posso elencar tantas situações vividas por Dudu, que chamamos de preconceito e discriminação.

Hoje, falamos em acessibilidade; mas a maior barreira que existe é a atitudinal.

Vou elencar apenas duas situações que, em pleno século XXI, por mais incrível e inacreditável que pareça, ainda acontecem e demonstram claramente posturas completamente desrespeitosas para com as pessoas com deficiência.

Primeira situação:

Na Feira do Livro, deparei-me com um pai com sua filha no colo; estava com Dudu esperando para entrar na exposição. De repente, o pai fala para a filha: “Aquele menino na cadeira de rodas está doente” falou duas vezes no ouvido da sua filha.

Não consegui me segurar, fui até o pai e lhe fiz o seguinte questionamento: “Como vou trazer uma pessoa doente para a Feira do Livro”?

Falei mais: “O meu filho tem o direito de participar; a única diferença é que para andar ele precisa de uma cadeira de rodas.

Segunda situação:

Ocorreu no Shopping da Ilha.

Uma criança de mais ou menos dois anos, correndo, deparou com Dudu que vinha passando comigo em sua cadeira de rodas; de repente a mãe pega a criança e, para ela parar de correr, lhe diz: Tá vendo aquele menino?

Ele vai te pegar! A criança parou de correr e, olhando para Dudu, abraçou a mãe com medo. Essas barreiras atitudinais são as que mais dificultam o direito de ir e vir das pessoas com deficiência.

É incrível! Contando, ninguém acredita! Nem eu acreditei. Fiquei sem ação.

Dudu é um cara com uma história linda; desde seus dois anos de idade que eu (sua mãe), fala da história dele, através de textos, reportagens nos jornais, na TV, denunciando a falta de respeito de profissionais médicos, que deixam acontecer essa situação com muitas mulheres que vão ter seus filhos e, pela demora de parto, muitos nascem em sofrimento, falta de oxigenação no cérebro ocasionando a paralisia cerebral.

Esse cara com diagnóstico de paralisia cerebral (tetraplegia, espástico (rigidez nos membros superiores e inferiores), com movimentos involuntários, tônus flutuante, e muitas outras situações que foram colocadas pelos médicos, continua aqui contando sua história. Quando ele nasceu, nos disseram que Dudu não teria muito tempo de vida.

Será que nós acreditamos no prognóstico dos médicos?

A resposta está no nosso filho, hoje mais um ano neste 28 de outubro, está aqui para dizer que a vida se resume no amor.

No amor que leva pra frente, no amor que acredita no potencial das pessoas, no amor que possibilita, no amor que oportuniza, no amor que aprende e ensina, no amor que respeita o outro, no amor que mesmo diante das dificuldades, nunca desistiu de lutar.

Mais uma vez Dudu vai comemorar seu aniversário internado, (2011, 2012, 2013), passou seus aniversários no hospital, com um quadro que dificulta a vida de nosso filho e de muitas crianças, adolescentes que tem dificuldades motoras ocasionada pela paralisia cerebral que é a pneumonia, e comemorar a vida do nosso filho, para nós é uma alegria, um prazer e ver no rosto dele, a alegria de viver, e quando pensamos que nós é que o ensinamos, nós é que temos a oportunidade de aprender com ele e valorizar as ações mais simples, como passar a mão numa vassoura e vê-la cair, para nos é fácil fazer essa ação, mas para ele não é fácil, e quando Dudu consegue fazer essa ação, ele dar uma gargalhada.

Para entender o que estou dizendo é preciso realmente conviver, só assim vão entender o que estou falando.

Para você, meu filho Carlos Eduardo, essa mensagem de amor, que todos possam aprender que a vida tem que ser valorizada, não pelas condições de cada pessoa, mas pelo jeito de ser de cada um.

Sua família: Eduardo Souza (pai), Liane Souza (mãe) Mário Enéas (irmão).

Artigo publicado na edição de 28/10/2013 do jornal O EstadoMaranhão
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