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Ouro de tolo…

Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável e ganho quatro mil cruzeiros por mês.

Eu devia agradecer ao Senhor por ter tido sucesso na vida como artista; Eu devia estar feliz porque consegui comprar um Corcel 73.

Eu devia estar alegre e satisfeito por morar em Ipanema, depois de ter passado fome por dois anos aqui na Cidade Maravilhosa.

Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso por ter finalmente vencido na vida, mas eu acho isso uma grande piada e um tanto quanto perigosa.

Eu devia estar contente por ter conseguido tudo o que eu quis, mas confesso abestalhado que eu estou decepcionado –  porque foi tão fácil conseguir, e agora eu me pergunto “E daí?”; eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar e eu não posso ficar aí parado.

Eu devia estar feliz pelo Senhor ter me concedido o domingo pra ir com a família no Jardim Zoológico dar pipoca aos macacos.

Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado: Macaco, praia, carro, jornal, tobogã… Eu acho tudo isso um saco.

É você olhar no espelho e se sentir um grandessíssimo idiota. Saber que é humano, ridículo, limitado; que só usa dez por cento de sua cabeça animal.

E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial.  Que está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social.

Eu é que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada e cheia de dentes, esperando a morte chegar.

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais, no cume calmo do meu olho que vê, assenta a sombra sonora de um disco voador…

Letra e música: Raul Seixas e Paulo Coelho
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