Defender a anistia aos criminosos condenados pelo 8 de janeiro – e compará-la à anistia aos que enfrentaram o golpe militar que assolou o país – é uma estupidez típica dos tempos sombrios surgidos no bolsonarismo

ELES SABIAM O QUE FAZIAM!!! Bolsonaristas destroem vidraças de prédio público durante a invasão dos três poderes no 8 de janeiro de 2023
Editorial
Nas últimas semanas, gente de todos os calibres sociais e inteligências passaram a fazer pressão por anistia aos já condenados pelos atos golpistas do 8 de janeiro de 2023. Sob o argumento de que “muitos ali nem sabiam o que estavam fazendo”, esses defensores da clemência usam argumentos os mais estapafúrdios para pedir a liberdade.
Curiosidade ou não, a totalidade dos “anistiadores” é bolsonarista, tem viés de direita ou nutre antipatia pelos postulados de esquerda.
- não há inocentes entre os que invadiram a praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023;
- o mais ingênuo deles apostava, no mínimo, que o vandalismo derrubaria o governo Lula;
- o golpe foi planejado, estudado, organizado e executado por uma massa que tinha foco.
“Não cabe anistia para quem tenta golpear a democracia. O projeto [de anistia, em tramitação no Congresso] sequer dá nome às coisas. O Supremo não poderá admitir uma lei que tenta normalizar ataques à democracia”, afirma o professor-doutor em Direito Lenio Streck; sua posição é seguida por diversos outros especialistas, sob o argumento básico de que “não é possível perdoar quem ataca os próprios responsáveis pelo perdão”. (Saiba mais aqui)
Estupidez maior ainda é comparar a anistia que pretendem aos golpistas à anistia dada aos que enfrentaram a ditadura militar que tomou o país a partir de 1964.
- os que lutaram contra a ditadura estavam legitimamente lutando contra um golpe de estado;
- os que invadiram a sede dos poderes constitucionais eram eles próprios agentes do golpe.
“Nos anos que se seguiram ao golpe [de 1964], essa insatisfação levou à formação de diversos grupos políticos de esquerda que tinham a luta armada como forma de ação e cujo objetivo principal era derrubar a ditadura, que cerceava direitos, vigiava opositores, censurava, torturava, matava e desaparecia com pessoas. Estas organizações pretendiam combater um Estado que estava criando inimigos internos para aniquilá-los”, conta a historiadora pós-doutora Isabel Cristina Leite, da Universidade Federal Fluminense. (Leia mais aqui)
Não há mais nenhuma dúvida, diante de tantas provas, tantas imagens, tantas falas e tantas declarações, que o ocorrido em 8 de janeiro de 2023 foi uma tentativa e golpe de estado, que só não foi bem-sucedida por que o líder dos insurgentes, um covarde histórico, fugiu e deixou seu rebanho a deus-dará.
- mas criminosos também são filhos e filhas, pais e mães de família;
- criminosos também carregam bíblias para cima e para baixo.
O que pensam os “anistiantes” sobre os milhares de presos que lotam as cadeias por terem roubado uma galinha ou um pedaço de carne para dar de comer aos seus filhos?
O que dizem eles sobre cidadãos que já cumpriram suas penas e ainda permanecem ilegalmente enjaulados pelo sistema jurídico brasileiro? E os milhares de pretos presos apenas por serem pretos, esquecidos por gente de boa escrita, boa fala e bons argumentos?!?
A democracia prevê os debates e até as guerras ideológicas, em que vale tudo dentro do processo argumentativo.
Mas a democracia precisa ser preservada às últimas consequências…