José Sarney
Foi o padre Antonio Vieira quem primeiro falou que no hemisfério sul não tínhamos as quatro estações. Aqui o inverno austral, que devia começar com o solstício de 21 de junho, não se sabia quando iniciava nem quando acabava. Só tínhamos duas estações: o período das chuvas chamado de inverno e o sem chuvas, chamado verão, que começava em junho ou julho, quando chegavam os ventos gerais, os alísios soprando do leste, com o céu azul, o mar encrespado e a temperatura mais amena. Era a época melhor, no tempo da navegação à vela, para viajar. Nesses meses vinha-se de Lisboa ao Maranhão em 28 dias, o mais perto trajeto de Portugal para o Brasil. Terminam as chuvas, sopram os ventos.
Aqui os nossos invernos são sempre marcantes. Em geral chuva quase todos os dias, chuva de pingo grosso. Mas São Luís sempre teve um sistema de drenagem perfeito. As chuvas não alagavam nada. As águas desciam as ladeiras rápidas, caíam nas nossas famosas “bocas de lobo” que eram abertas nas ruas mais íngremes. Agora, depois que a cidade se expandiu e os prefeitos diminuíram, as obras de drenagem desapareceram e começaram a encher ruas, alagar bairros e obrigar os automóveis a virarem lanchas.
Neste ano, depois da ameaça de que não choveria, veio maio e trocando as tradições, por mistérios deste mundo, em vez de “trovão e raio”, foi chuva – que nunca é demais -, e então a cidade que já estava esburacada, transformou-se num só buraco cheio d`água. Culpa de quem? Do bom inverno, que em vez de ser louvado, apanhou e até foi responsável por ser decretado “estado de calamidade”. E o inverno que é bonança, água que é divina, passou a ser culpado de tudo. Eu quero protestar e defender o inverno que está na alma de todos nós, é responsável pelos bons anos, fartura no campo, água nos lagos e campos, peixes e açudes cheios, poços e capim, protetor do arroz brabo, andrequicé e canarana. Ninguém que me fale do inverno, ele é nosso e por milagre de Deus, todos os anos, séculos e séculos, nos chega e nos ajuda.
Calcule se tivesse televisão no tempo do Cabrinha, que foi um governador do Maranhão. Onde hoje tem o farol de São Marcos, para orientar a navegação, mostrando que o rumo da terra existia uma fogueira em São Marcos e quando ela apagava era uma reclamação imensa. Então o Cabrinha colocou no seu relatório de governo entre suas grandes realizações acender a fogueira de São Marcos! Agora, as grandes obras são faixas de tinta branca nas avenidas e um sinal de trânsito.
E elogio para essas grandes obras e pau no inverno pelas benditas chuvas que chegaram! É demais!