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Yglesio Moyses e uma história de médico… e “mais médicos”

Quando entrei no curso de Medicina, eram 35 vagas somente.

Desses 35 aprovados, 7 estudavam no Reino Infantil, 1 no Dom Bosco, 2 no Batista, 1 no Girassol e uns 2 no Marista. Os outros não lembro bem.

TODOS eram alunos de escola particular.

Tínhamos apenas 3 negros na turma, 2 deles com boas condições financeiras (todos de escolas particulares).

De 35, apenas 3 eram negros (8,5%) . Só pra constar, o Maranhão tem 74% de negros na sua população.

As cotas foram a maior resposta que os governantes puderam dar aos negros. Foi a chamada justiça imediata.

Eu sonho com o dia em que um negro de jaleco não seja chamado de enfermeiro ou técnico de enfermagem antes de se descobrir que ele é um “doutor” médico. Tenho total respeito à Enfermagem, mas esse preconceito acontece demais pelo Brasil.

Ser médico sempre foi ser “elite” no país.

A cor da Medicina sempre foi “branca”.

Hoje, também fico feliz por saber que o aluno da escola pública pode, mesmo com as adversidades, chegar aonde eu cheguei.

Fico feliz por saber que quem não passa numa universidade pública pode pagar uma particular com o FIES ou ter uma bolsa total com o PROUNI.

Tenho alunos brilhantes no CEUMA em que o governo federal banca 6000 reais de curso todo mês.

Com todas as dificuldades, hoje temos o quádruplo de vagas na UFMA espalhadas pelo Maranhão e ainda as particulares.

Quer saber a verdade? Já fui contra as cotas, já achei que a gente tinha que melhorar o ensino lá atrás pra dar condições de igualdade lá na frente.

Hoje eu vejo que é injusto você privar toda uma geração de excluídos, esperando um sistema que vem errado desde o ano 1500 entrar nos rumos.

A vida não espera tanto assim.

É inadmissível condenar toda uma geração à exclusão.

Hoje, qualquer aluno, branco, negro, rico, pobre, qualquer um pode chegar lá, desde que se esforce. Uns com mais esforço que os outros.

Igualdade não é você dar a mesma posição social a todos… Igualdade é você dar a chance das pessoas chegarem lá.

Problemas ainda existem, muitos, mas somos nós que ajudamos a construir o bom caminho.

Vamos pra frente!

Publicado no Facebook, com o título original “A Universidade de 16 anos atrás”
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