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Facebook, o ‘fast-food’ do pensamento

Por Marcelo Jorge Moraes Rio, Observatório da Imprensa

Outro dia, decidi entrar no Orkut mesmo sabendo que há tempos ele não passa de um grande deserto virtual. Ao visitar comunidades e ler alguns tópicos, senti uma certa tristeza por ver que uma rede social muito mais interessante que o Facebook foi abandonada não porque se tornou obsoleta, mas porque alguns ditadores do que é moda (até na internet eles mandam), num dado momento sentenciaram que a “onda a partir dali seria migrar para o Face”.

A esta altura, os menos avisados já devem ter concluído: “Ah, isso é papo de velho que sempre diz que na sua época tudo era melhor”. Cabe, então, um esclarecimento: Facebook e Orkut foram criados exatamente no mesmo ano: 2004. Sabe-se lá por qual motivo, o Orkut logo virou febre por aqui, com direito até a dezenas de matérias que tentavam explicar seu sucesso. Enquanto isso, o Facebook era um total desconhecido para a imensa maioria dos internautas brasileiros.

Durante quatro, cinco anos, o Orkut reinou absoluto por aqui. Milhões de pessoas acessavam-no o dia todo para trocar ideias e para isso contavam com comunidades específicas para abordar o assunto que cada um queria tratar. É bem verdade que em muitas comunidades nada se aproveitava, mas em outras havia uma real troca de ideias que iam desde debates mais sérios até simplesmente o ato de jogar aquela deliciosa conversa fora sobre cinema, música etc. O grande barato é que assim que você postava uma opinião ou criava um tópico, logo vinham respostas de várias pessoas que tiveram o interesse de ler o que você escreveu, algumas concordavam outras não, mas o mais importante era que você passava o que pensava e tinha gente disposta a ler.

Da mesma forma que o Orkut virou moda do nada, há dois ou três anos foi a vez do Facebook virar mania nacional, só que dessa vez de maneira imposta. Como o Orkut tinha se popularizado demais, algumas pessoas com ar blasé passaram a difundir que moderno mesmo era entrar no Face. Relutei muito para aderir a essa rede social, mas, para não ser do tipo “Não vi e não gostei”, decidi entrar. No começo acessava muito pouco. Preferia o Orkut, mas com o tempo passei a frequentá-lo mais e para minha decepção percebi que ele é um retrocesso espantoso em termos de ferramenta de comunicação, mas que vem bem a calhar com o momento em que vivemos, quando as pessoas não querem perder tempo para pensar e escrever, muito menos para ler algo que tenha mais do que duas linhas.

No Facebook, quase todo mundo “entende de política” e para mostrar isso colocam imagens com uma mensagem curta e uma foto de um político ou de algo errado. Muitas vezes a curta mensagem conta uma mentira gigantesca, mas para os facebookianos a verdade é só um detalhe irrelevante; importante mesmo é saber quantos curtirão o seu “comentário”. Se Goebbels, mestre da propaganda nazista, vivesse nos dias atuais, poderia adaptar seu pensamento de “Uma mentira repetida mil vezes se torna verdade” para “Uma mentira compartilhada no Facebook se torna verdade e com muito mais rapidez!”

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Marco Aurélio D'Eça

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