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Flávio Dino absolutista…

Tentando trafegar acima do bem e do mal, atuando em todos os aspectos da vida socio-político-cultural do Brasil – de jogos de futebol a eventos da cultura pop, além das atribuições próprias de sua pasta – ministro da Justiça vai transformando o melhor momento de sua carreira política em Brasília numa espécie de licença para pensar, dizer e fazer o que quiser em nome do tal “Estado de Direito”, encurralando adversários e levando o medo a quem ousa questionar sua forma de pensar o Brasil

 

Sob a proteção do herói pop Hulk ou ajudando seu time do coração, o Botafogo, Dino está presente em tudo na capital federal

Editorial

O termo absolutista acompanha os predicados atribuídos ao ministro da Justiça Flávio Dino (PSB) desde que ele entrou na vida pública, em 2006; há variações neste epíteto, como autoritarismo, intransigência e medo. 

Este blog Marco Aurélio d’Eça, por exemplo, já usou os três adjetivos em inúmeros posts; o mais clássico deles é o de 2015, intitulado “É pelo medo que Flávio Dino se impõe…”.

Cônscio de sua capacidade retórica, somada à sua cultura e erudição, Dino usa discurso rebuscado para provocar medo em quem tenta contrapor-se a ele; e o mesmo medo ele usa também para intimidar adversários.

Os seis meses de ministério foram suficientes para que a imprensa que cobre Brasília – e que endeusava o tal “professor de Deus” – começasse a perceber o absolutismo característico na personalidade de Dino.

Primeiro foi a revista Veja, que trouxe ampla reportagem sobre os agrados e desagrados que o maranhense vem construindo na capital federal, analisada pelo blog Marco Aurélio d’Eça no post “Mídia nacional vê em Flávio Dino, só agora, o que este blog viu ainda em janeiro…”.

Agora é a vez do jornal O Estado de São Paulo; em editorial nesta quinta-feira, 20, O Estadão abordou com excelência o absolutismo dinista atribuindo a ele características do Rei Sol, Luís XIV, de França, a quem atribui-se a frase “O Estado Sou Eu”.

No Ministério da Justiça, Dino tem dado sinais de que se pretende o estado brasileiro em absoluto.

O exemplo mais absurdo desta “consciência” se viu no episódio envolvendo os agressores do ministro Alexandre de Morais, do Supremo Tribunal Federal, que Dino transformou em uma verdadeira operação de guerra.

Um mero bate-boca, um empurra-empurra de aeroporto – que deveria ser resolvido em uma delegacia comum – foi transformado pela Polícia Federal, comandada por Flávio Dino, em uma conspiração internacional, com direito a invasão de domicílios, apreensão de computadores e celulares e horas de perícia em busca de sinais contra o tal Estado Democrático de Direito que o ministro tanto defende.

– É tarefa do inquérito policial averiguar o que de fato ocorreu. Havendo elementos suficientes sobre a materialidade e a autoria de um ou mais crimes, cabe ao Ministério Público apresentar à Justiça a denúncia correspondente. Mas não há nada que autorize a transformar eventual agressão física ou moral a um ministro do STF e sua família em crime contra o Estado Democrático de Direito – afirmou o editorial do Estadão. (Leia a íntegra aqui)

Em 1º de julho último, o blog Marco Aurélio d’Eça publicou editorial em que analisa as falas de Flávio Dino contra a internet, a liberdade de expressão e os algoritmos que hoje controlam quase todos aos aspectos da vida, inclusive os sistemas da Polícia Federal e do Ministério da Justiça; o post chama-se, ironicamente, “Flávio Dino agora briga até com a inteligência artificial…”.

No post o blog Marco Aurélio d’Eça compara Flávio Dino a Dom Quixote de La Mancha, personagem clássico do escritor espanhol Miguel de Cervantes; foi a terceira ou quarta vez que o blog compara as ações de Dino às do cavaleiro andante, que via inimigos até em meros moinhos de vento. (Relembre aqui, aqui e aqui)

Mas há uma diferença entre Flávio Dino e Dom Quixote.

Longe de ser um personagem caricato, o cavaleiro de Miguel de Cervantes faz uma critica ao romance de cavalaria e traz para si sua própria epopeia sobre cavalos e cavaleiros, numa época – o período das descobertas de novos mundos – em que este tipo de romance já definhava.

Dino, ao contrário, expandiu sua ideia provinciana de cavalaria e a espalha hoje por todos os aspectos sócio-políticos-econômicos-sociais do Brasil.

Seja em congressos de estudantes-militantes, usando o estado para resolver questões do seu time do coração ou ao lado de ícones da cultura pop americana, Flávio Dino está em todos os lugares com suas “lanças da Justiça”.

Olhando em tudo e em todos – como na loucura absolutista do De La Mancha – inimigos a serem derrotados.

Mas em algumas partes só existem apenas os moinhos de vento…

Marco Aurélio D'Eça

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