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Apesar de contestar, Maranhão usa cloroquina contra coVID-19…

Blog teve acesso a protocolos oficiais e a depoimentos de profissionais da saúde que confirmam o uso da substância no tratamento da doença, tanto na rede particular quanto nas redes federal, estadual e municipal na Grande São Luís, endossado por recomendações do próprio Conselho Regional de Medicina

Reportagem Especial

Desde o início da pandemia de coronavírus, o governador Flávio Dino (PCdoB) tem feito duras críticas ao uso da hidroxicloroquina no tratamento da coVID-19, sobretudo com ataques ao presidente Jair Bolsonaro, que defende abertamente o uso da substância.  

Mas o que Dino nunca disse à população – nem ele, nem as outras autoridades maranhenses – é que o medicamento faz parte do protocolo da própria rede pública de saúde no tratamento da doença transmitida pelo coronavírus.

A cloroquina é usada tanto em hospitais particulares quanto nas redes federal, estadual e municipal, seguindo o mesmo protocolo determinado pelo Ministério da Saúde e endossado pelo Conselho Regional de Medicina.

Recorte do protocolo do Ministério da Saúde orienta quanto ao uso da Hidroxicloroquina em pacientes da coVID-19

De acordo com o protocolo do MS, a hidroxicloroquina deve ser administrada na quantidade de 400mg, com “um comprimido de 12 em 12 horas, no primeiro dia.”

– A seguir, tomar um comprimido ao dia, até completar 5 dias – estabelece o documento oficial.  (Veja print)

Uso além do determinado 

Mas há na rede pública quem desobedeça este protocolo e vá além na administração da substância, caso, por exemplo, do Hospital da Mulher, unidade-referência da Prefeitura de São Luís para tratamento da coVID-19.   

Farmacêuticas conversam sobre a administração além da conta da hidroxicloroquina em hospital da rede pública

O blog Marco Aurélio D’Eça teve acesso a documentos e depoimentos de profissionais de Saúde que confirmam o uso da substância nesta unidade; e teve acesso também a conversas de profissionais de farmácia, preocupados com a aplicação da cloroquina para além do determinado no protocolo oficial:

– Estamos administrando cloroquina por mais de 10 dias – alerta, preocupada, uma das farmacêuticas do HM.

– Estamos fugindo totalmente do protocolo do MS. Mas não estamos sozinhas. Ollhaaaaa!!! – diz a outra, sem ficar claro o que quer dizer o fim da conversa. (Veja print)

A preocupação dos profissionais de farmácia se dá pelos riscos de administração do medicamento além da média determinada no protocolo, que é de apenas 10 dias. A partir do dia-limite, os riscos são graves, e já levou à morte de diversos pacientes na rede particular. (Entenda aqui e aqui)

Nenhuma das autoridades de saúde no estado admitem oficialmente o uso da cloroquina – resultado da postura crítica adotada publicamente pelo governador do estado – mas todos seguem o protocolo endossado pelo Conselho Regional de Medicina, que, inclusive, encaminhou suas próprias recomendações à rede pública.

Pacientes deveriam consentir

O documento do CRM-MA, a que o  blog Marco Aurélio D’Eça também teve acesso, faz o alerta de que o tempo de tratamento pode variar, mas não pode superar 10 dias.

Documento do CRM-MA orienta hospitais a ministrar cloroquina por 10 dias, no máximo. E exige termo de consentimento do paciente

Em “Recomendação” encaminhada também à rede de saúde de Imperatriz, o conselho cita o Parecer do CFM (Conselho Federal de Mdicina) nº 04/2020, que diz, textualmente: 

– Parecer do CFM nº 04/2020 autorizou a prescrição OFF LABEL da hidroxicloroquina no contexto desta epidemia de covid-19, após consentimento livre e esclarecido. Todos os pacientes devem assinar Termo de Consentimento informado (em, anexo).

O termo Off Label destacado no documento do CRM-MA – ainda sem tradução no Brasil, é a expressão médica para uso de medicamento fora da prescrição prevista em sua bula, ou de medicamento ainda não registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária. (Saiba mais aqui) 

Tem no hospital; falta nas farmácias

Na semana passada, o blog Marco Aurélio D’Eça publicou post em que pacientes de várias doenças denunciavam preços abusivos da cloroquina nas farmácias de São Luís.

Alguns desses pacientes, acusaram o poder público de ter confiscado estoques da substância, o que gerou a falta nas farmácias.

Nem o governo, nem a prefeitura, nem o Ministério da Saúde se posicionaram oficialmente sobre a denúncia; mas os documentos e depoimentos agora mostram que a rede pública usa, sim, a cloroquina em seus tratamentos.

E isso também pode explicar a falta da substância para quem, de fato, precisa usá-la…