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“Libera-geral” de Flávio Dino simboliza fim da quarentena no MA

Ao lavar as mãos para o controle do distanciamento social decretado por ele mesmo, Governo do Estado estimula população a sair às ruas e gerar aglomerações em vários pontos, diante do novo recorde de casos de coVID-19 e da falta de fiscalização, também desprezada pelas autoridades

 

A festa popular na Rua Grande simbolizou o fim do isolamento social na Grande São Luís, mas as aglomerações se espalham desde sábado também pelo interior

Editorial

O primeiro dia do “libera-geral” das atividades comerciais, decretado pelo governador Flávio Dino (PCdoB), simbolizou nesta segunda-feira, 25, também o fim da quarentena da pandemia de coronavírus no Maranhão.

Sem controle das próprias autoridades, sem a necessária fiscalização – da qual Dino e os prefeitos lavaram as mãos – a população foi em massa aos principais centros comerciais de São Luís.

Numa demonstração clara de que parece ter cansado na luta contra a pandemia, Flávio Dino não deu entrevistas, não divulgou notas e se limitou a publicar em suas redes sociais um pedido para que a própria população fiscalizasse o cumprimento do seu decreto.

E no dia em que o Maranhão batia mais um recorde de mortes pela coVID-19 – com 1,5 mil novos casos e 33 mortes em 24 horas – as lojas, liberadas ou não, abriram as portas; e gente com ou sem máscaras foi às ruas, decretando o fim simbólico do isolamento social.

Mas o fim da quarentena já havia sido decretado no fim de semana, com praias e parques cheios e até bares e grupos fazendo festas, em São Luís e no interior. 

Flávio Dino se limitou a pedir que a população denuncie seus vizinhos, colegas e concorrentes, lavando as mãos em relação às próprias responsabilidades na pandemia

O pior é que as autoridades não demonstram mais o mesmo interesse na luta pelo controle de suas medidas contra a coVID-19.

Nas redes sociais, o discurso de secretários, auxiliares e aliados políticos do governo comunista era o mesmo: “o governo não pode tutelar o povo; o cidadão precisa ter consciência”.

Sem fiscalização, sem controle e sem coerção policial, o movimento nas ruas só tende a aumentar, à medida que mais pessoas forem percebendo o desinteresse do governo.

E assim, o Maranhão precisará de milagre para não entrar em colapso no atendimento à coVID-19…

Com dados de terceiros, Flávio Dino e Carlos Lula desmerecem própria equipe

Se, por um lado, o governador vai à TV usar estudo gráfico elaborado pelo deputado Dr. Yglésio, por outro o secretário de Saúde usa seu perfil nas redes sociais para divulgar mais gráfico, de “um craque de Recife”; e ambos ignoram parecer da equipe de consultores contratados pelo próprio governo

 

Flávio Dino com o power point elaborado pelo deputado Dr. Yglésio: busca de dados que case com seu próprio ponto-de-vista

O governador Flávio Dino (PCdoB) e o seu secretário de Saúde, Carlos Eduardo Lula, dão mostras cada vez mais robustas de que não levam muito em conta o que pensam seus assessores para a área de epidemiologia, virologia e infectologia. (Entenda aqui)

Além de nunca ter aparecido ao lado de nenhum deles em suas coletivas de imprensa, tanto Dino quanto Lula preferem usar dados de terceiros a levar em conta o que dizem estes consultores, alguns contratados por alguns milhares de reais. (Saiba mais aqui)

Nesta quinta-feira, 21, por exemplo, o governador Flávio Dino (PCdoB) utilizou em sua coletiva os gráficos elaborados pelo deputado estadual Dr. Yglésio (PROS) com a projeção do avanço da pandemia. 

Os power points do “craque de Recife” usado por Carlos Lula como chancela ao anunciado sucesso do lockdown na Grande Ilha

Aparentemente enciumado, Carlos Lula foi às redes sociais para publicar novos power point’s, estes feitos por quem o próprio secretário chamou de “craque do Recife”: o professor Dalson Figueiredo, do Departamento de Ciência Política da UFPE. 

– Sabe pouco – elogiou Carlos Lula, sobre o estudo que, segundo ele, analisa o lockdown na Grande São Luís, entre os dias 5 e 17 de maio.

Nem Flávio Dino, nem Carlos Lula, porém, fizeram qualquer comentário ao “Parecer Técnico Sumário sobre Uso de Cloroquina/hidroxicloroquina e Azitromicina na Terapia Precoce da CoVID-19, elaborado pela Comissão de Infectologia assessora da Secretaria Estadual de Saúde do Governo do Estado do Maranhão.

Pronto desde a segunda-feira, 18, o estudo desautoriza o uso da cloroquina em pacientes na fase inicial da coVID-19, exatamente como defendem Dino e Lula.

Publicado na íntegra pelo blog Marco Aurélio D’Eça, o estudo, de quase 10 páginas, é assinado pelos professores doutores e especialistas da Universidade Federal do Maranhão (Ufma) Ana Cristina Rodrigues Saldanha, Bernardo Bastos Wittlin, Conceição de Maria Pedrozo e Silva de Azevedo, Elza Carolina Cruz Sousa Barros, Eudes Alves Simões Neto e Mônica Elinor Alves Gama. 

Mas não mereceu qualquer tipo de menção do governo maranhense.

O uso de estudos técnicos elaborados por terceiros – fundamentados ou não – reforçam a ideia de que Flávio Dino e seus auxiliares mais próximos trabalham às cegas no combate ao coronavírus.

E quem não tem direção não sabe para onde vai.

E não chega a lugar algum…

César Pires volta a denunciar maquiagem nos números da covid-19 no MA

Deputado estadual acha suspeito que os números da Secretaria Estadual de Saúde apresentem nova discrepância em comparação aos boletins municipais justamente quando o total de infectados ameaça romper a barreira dos mil casos por dia

 

César Pires tem contestado sistematicamente, com documentos oficiais, os números da pasta do secretário Carlos Lula, que culpa o sistema nacional pela defasagem

O deputado estadual César Pires (PV) voltou a denunciar nesta quinta-feira, 21, o que chama de “maquiagem do governo Flávio Dino (PCdoB) nos números oficiais da coVID-19” no Maranhão.

Para o deputado, é mais suspeito ainda que essa maquiagem – para diminuir o total – ocorra exatamente quando o Maranhão ameaça romper a barreira dos mil casos por dia.

– É suspeito que o governo Flávio Dino corrija os números exatamente depois que a gente faz a primeira denúncia; e volte a maquiar os números quando os casos ameaçam romper a barreira de mil por dia – acusou Pires.

Não é a primeira vez que César Pires denuncia a manipulação nos números da coVID-19.

Há três semanas, ele apresentou uma série de boletins de prefeituras do interior que mostravam absoluta defasagem no total de casos divulgados pela SES se comparados com os números dos municípios.

Depois da denúncia, a SES passou a corrigir os números, até igualá-los aos dados municipais, o que fez o registros de casos disparar no estado. (Relembre aqui)

O boletim oficial da Secretaria de Saúde apresentou oficialmente ontem apenas 204 casos de coVID-19 registrados em Códo…

Mas, aos poucos, os dados do governo voltaram a ficar defasados em relação aos dos municípios, até culminar com a diferença gritante nos relatórios desta quarta-feira, 20, justamente quando o total de infectados pela coVID-19 beira os mil casos.

– O boletim de ontem do governo mostrava apenas 204 casos em Codó; mas o boletim da prefeitura, no mesmo dia, apresenta 461 casos. Só essa diferença de 257 casos já faria os 944 casos anunciados pela SES subir para 1.201 –  comparou o parlamentar.

…Mas o boletim oficial da Prefeitura de Codó, no mesmo dia, diz que os casos confirmados são, na verdade, 461, uma diferença de 257 casos

Repare que a conta incluindo os números reais de Codó elevaria o total de casos de coVID-19 para próximo ao pico de 1,5 mil casos, estimado pela Universidade Federal de Minas Gerais para ocorrer só em 5 de junho, conforme pesquisa já publicada no blog Marco Aurélio D’Eça. (Entenda também aqui)

O governo alega que os dados ficam defasados por que as prefeituras informam diretamente ao Ministério da Saúde, o responsável por atualizar o sistema, usado pela própria SES.

Mas César Pires suspeita que o objetivo do governo é sustentar o discurso vendido na mídia nacional, de sucesso nas medidas contra o coronavírus.

– Ele [Flávio Dino] vende na imprensa nacional que o Maranhão tem o controle da pandemia; esses números mostram que não ha´controle algum – concluiu Pires.

E sem controle, nenhum planejamento funciona.

Simples assim…

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Com quase mil casos por dia, Maranhão se aproxima de pico previsto para junho

Último boletim da Secretaria de Saúde – que nem inclui alguns municípios – registrou 944 novos casos da doença, número aproximado aos 1,5 mil que pesquisa da UFMG estimou para só daqui a 15 dias, em 5 de junho

 

O Estudo da UFMG previu o aumento de casos no Maranhão, o que tem ocorrido mesmo depois do lockdown e do rodízio de veículos; e agora o governo decide afrouxar o isolamento

No dia 5 de maio, o blog Marco Aurélio D’Eça publicou resumo de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais`(UFMG) apontando a evolução da pandemia de coronavírus no Maranhão.

Naquela época, de acordo com o estudo, o Maranhão atingiria a casa dos 700 casos por dia a partir do dia 8 de maio, uma sexta-feira.

Naquela mesma sexta-feira, 8, o boletim da Secretaria de Saúde registrou 856 casos, confirmando a linha evolutiva da UFMG. (Relembre aqui)

Além do número total de casos naquela época, o documento da UFMG afirmava que o pico da doença no Maranhão se daria no dia 5 de junho, com algo em torno de 1,5 mil casos por dia.

Pois bem, o último boletim da SES, divulgado nesta quarta-feira, 20, apontou 944 novos casos da coVID-19 em todo o estado.

É preciso lembrar que, entre a divulgação do estudo e este boletim com quase mil casos de coVID-19, o governo impôs um arremedo de lockdown e um pseudo-rodízio de carros sem que tenha conseguido mudar a curva de contaminação.  

Faltam cerca de 15 dias para o dia 5 de junho e o governo Flávio Dino já decidiu afrouxar as regras do isolamento.

É preciso lembrar também que a SES voltou a atrasar a divulgação dos dados de vários municípios, conforme este blog divulgou no post “Dados divergentes no Maranhão continuam dificultando ações contra a coVID-19…”

Tudo isso junto pode levar o pico a ser antecipado…

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Dados divergentes sobre coVID-19 dificultam ações no Maranhão

Relatórios da Secretaria de Saúde continuam sendo divulgados com informações defasadas – tanto em relação ao número de municípios com casos confirmados quanto ao total de contaminados nesses municípios – o que torna “às cegas” qualquer planejamento contra a pandemia

 

Flávio Dino e seus auxiliares carecem de informações exatas para traçar o planejamento de ações contra o coronavírus

O governo Flávio Dino (PCdoB) deve anunciar “às cegas”, na tarde desta quarta-feira, 20, novo decreto com regras para o enfrentamento da pandemia de coronavírus no Maranhão.

O documento sai às cegas por que, a julgar pelos relatórios da própria Secretaria de Saúde, Flávio Dino trabalha com dados defasados sobre número de municípios com casos confirmados e número de casos em cada cidade, o que impossibilita o planejamento de ações.

Para se ter ideia da diferença de informações entre governo e prefeituras, o último relatório estadual deixou de fora pelo menos cinco municípios que já apresentam casos de coVID-19, segundo revelou nesta quarta-feira, 20, o blog do Jorge Aragão. (Leia aqui)

O mais grave: municípios com alto número de casos aparecem com índices reduzidos nos relatórios da SES. 

A falta de comunicação direta entre prefeituras e Governo do Estado sobre a coVID-19 foi tratado neste blog em dois posts sucessivos.

O Governo do Estado não consegue atualizar os dados da coVID-19 nos municípios, o que deixa diversos casos sem a informação devida à população

O primeiro, no dia 9 de maio, tratou da “maquiagem que o governo realizava nos números da coVID-19, ignorando casos em vários municípios”…

Dois dias depois, novo post, agora noticiando que, “após denúncia, governo começou a revelar dados reais da coVID-19…”

Depois disso, a Secretaria de Saúde chegou a equalizar os seus dados com o dos municípios, mas voltou a ficar defasada em relação à realidade.

E sem a comunicação clara dos números da pandemia no estado, qualquer planejamento de ações do governo fica prejudicado, como aconteceu com o lockdown e com o rodízio. (Entenda aqui, aqui e aqui)

E corre o risco de ser mais um tiro pela culatra… 

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Nova contaminação atinge países que afrouxaram isolamento…

Estados Unidos, China, Alemanha e Irã são obrigados a declarar novo bloqueio em várias cidades que decidiram abrir atividades comerciais e experimentaram nova onda de casos de coVID-19; no Maranhão, governador decide hoje se afrouxa o distanciamento

 

A expectativa nesta quarta-feira, 20, é para o anúncio do governador Flávio Dino sobre o isolamento no Maranhão, no mesmo dia em que estouram notícias de recontaminação em vários países

No dia em que o governador Flávio Dino (PCdoB) deve anunciar novas regras para o isolamento social no Maranhão – com possibilidade de abertura de novos setores do comércio – estouram casos de recontaminação em diversos países que experimentaram esse afrouxamento.

Na China, no Irã, na Alemanha e nos Estados Unidos, dentre outros países, o governo está voltando a fechar estabelecimentos após constatar uma segunda onda de contaminação do coronavírus. (Saiba mais aqui)

Desde meados de abril, Flávio Dino vem sendo duramente pressionado por setores do comércio e da indústria para afrouxar as regras do isolamento e permitir a abertura de novos tidos de atividades.

O lobby pelo fim do confinamento envolve também setores do segmento evangélico.

Nessa guerra de bastidores, o governador já apresentou recuos e avanços nas ações contra o coronavírus. (Entenda aqui e aqui)

Na semana passada, quando o presidente Jair Bolsonaro assinou decreto autorizando funcionamento de salões de beleza, barbearias e academias de ginástica, Dino garantiu que nada mudaria no Maranhão até esta quarta-feira, 20, quando encerra-se a validade do decreto de isolamento social.

Mas o próprio Dino já ressaltou que deve ampliar o rol de atividades essenciais, o que deve incluir, exatamente, salões de beleza, barbearias e academias de ginástica.

As notícias mundo a fora no dia do seu anúncio, no entanto, devem servir, ao menos, para que o governador reflita sobre suas ações.

Afinal, uma segunda onda de contaminação pode ser devastadora no Maranhão…

Maranhão tem 198 municípios com registro de coVID-19…

Coronavírus se espalha pelo interior em meio ao debate sobre falta de leitos, situações difíceis em algumas cidades e perspectiva de abertura gradual das atividades comerciais, o que já começou a ser feito em Imperatriz

 

Em Bacabal, município com explosão de casos, covas estão sendo abertas para vítimas de coVID-19

O Maranhão atingiu o número de 198 municípios com registro de coVID-19.

O alastramento do coronavírus pelo interior – alertado há pelo menos duas semanas pelo blog Marco Aurélio D’Eça – se dá em meio a um intenso debate sobre a falta de leitos no interior, iniciado também aqui neste blog. (Relembre aqui, aqui e aqui)

Além do debate sobre leitos, o interior vive a expectativa da reabertura do comércio, uma vez que o próprio governador Flávio Dino (PCdoB) já admite esta possibilidade a partir da próxima semana.

Em alguns municípios, como Imperatriz e Santa Inês, as lojas de todos os tipo já estão em pleno funcionamento.

Mas os riscos de colapso no interior são reais.

Em Bacabal, por exemplo, a situação já ´de caos. Já foram registrados na cidade quase 600 casos de coVId-19; a preocupação é tana que a prefeitura mandou abrir covas individuais para mortos por suspeita da doença.

Em outros municípios, a população não dispõe, sequer, de leitos de UTI, o que pode sobrecarregar outras regionais.

Apenas 19 municípios maranhenses ainda não registraram casos de CoVID-19…

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Parecer técnico da SES desautoriza cloroquina a pacientes de coVID-19

Documento assinado por membros da “Comissão de Infectologia Assessora do Governo do Estado” põe em xeque declarações do secretário Carlos Lula e do próprio governador Flávio Dino, que passaram a falar do uso do medicamento a pacientes leves; autores recomendam retirada do composto do protocolo de tratamento

 

Comissão que assessora o governo Flávio Dino não recomenda uso da cloroquina nas fases iniciais da doença, e desautoriza sua inclusão no protocolo da Secretaria de Saúde

O “Parecer Técnico Sumário sobre Uso de Cloroquina/hidroxicloroquina e Azitromicina na Terapia Precoce da CoVID-19, de autoria da Comissão de Infectologia assessora da Secretaria Estadual de Saúde do Governo do Estado do Maranhão”, aumentou a polêmica sobre o uso das substância no tratamento de vítimas do coronavírus no Maranhão.

O documento, assinado por cinco especialistas, e timbrado pela Vírion Infectologia – que assessora diretamente a Secretaria de Saúde no combate à doença – faz uma série de análises e, ao final, desautoriza o uso do composto.

– Pelo exposto acima, NÃO recomendamos formalmente o uso de cloroquina/hidroxicloroquina, com ou sem azitromicina, para casos confirmados de COVID-19 que apresentem sintomas leves e em fase precoce. Ademais, face às evidências mais recentes, deliberamos a retirada da recomendação para uso da mesma em protocolo para pacientes internados – conclui o documento.

A conclusão da comissão, encaminhada nesta segunda-feira, 18 ao comando da SES e do governo – e que o blog teve acesso nesta terça-feira, 19 – põe em xeque declarações do secretário Carlos Lula e do próprio governador Flávio Dino, que passaram a admitir o uso da cloroquina nas fases iniciais da doença, após meses de críticas à postura de quem pregava o uso da substância.

Talvez por esta recomendação é que Flávio Dino e Carlos Lula chegaram a publicar em suas redes sociais a defesa do uso da cloroquina, mas as retiraram em seguida, eliminando também da pagina do Governo do Estado.

O parecer técnico é assinado pelos médicos  Ana Cristina Rodrigues Saldanha, Infectologista e Profª. Drª. da Universidade Federal do Maranhão (UFMA); Bernardo Bastos Wittlin, Infectologista do Hospital Universitário da UFMA; Conceição de Maria Pedrozo e Silva de Azevedo, Infectologista e Profª. Drª. da Ufma; Elza Carolina Cruz Sousa Barros, Infectopediatra do Hospital Universitário da UFMA; Eudes Alves Simões Neto, Infectologista e Professor Especialista da Ufma; e Mônica Elinor Alves Gama, Pediatra e Profª. Drª. da Ufma. 

Abaixo, a íntegra do Parecer da Víriom Infectologia:

Vírion Infectologia

18 de maio de 2020

Parecer técnico sumário: uso de cloroquina/hidroxicloroquina e
azitromicina na terapia precoce da COVID-19

Comissão de Infectologia assessora da secretaria estadual de saúde do
Governo do Estado do Maranhão

1) Autores:

Ana Cristina Rodrigues Saldanha1, Bernardo Bastos Wittlin2 Conceição de Maria Pedrozo e Silva de Azevedo3, Elza Carolina Cruz Sousa Barros4, Eudes Alves Simões Neto5 e Mônica Elinor Alves Gama6

1. Infectologista e Profa Dra da Universidade Federal do Maranhão (UFMA); 2. Infectologista do Hospital Universitário da UFMA; 3. Infectologista e Profª. Dra. da Universidade Federal do Maranhão; 4. Infectopediatra do Hospital Universitário da UFMA; 5. Infectologista e Prof. Esp. da Universidade Federal do Maranhão; 6. Pediatra e Profa. Dra. da Universidade Federal do Maranhão

2) Conflitos de interesse:

Os autores não declaram conflitos de interesse.

3) Contexto:

A COVID-19 é uma doença respiratória aguda causada pelo coronavírus SARSCoV-2 e identificada pela primeira vez em Wuhan, na província de Hubei, China, em dezembro de 2019. O primeiro caso no Brasil foi detectado em fevereiro de 2020. Em março de 2020, a OMS definiu o surto como pandemia. À elaboração do presente documento, há mais de 241.000 casos e 16.000 mortes confirmadas no Brasil.

Até o momento, não existe droga comprovadamente eficaz contra a doença. Inúmeros fármacos, incluindo alguns utilizados para outras condições médicas, estão sendo reposicionados e objetos de ensaios clínicos e estudos observacionais, dentre eles, a cloroquina e seu derivado hidroxicloroquina. Diversos países, incluindo o Brasil, liberaram seu uso como terapia experimental e/ou compassiva para pacientes graves.

4) Introdução:

A cloroquina/hidroxicloroquina (CQ/HCQ) é um medicamento antimalárico antigo, utilizado há décadas não apenas no tratamento da malária, como em doenças reumatológicas, devido às suas ações imunomodulatórias. Tem perfil de segurança conhecido no tratamento das populações afetadas pelas referidas doenças, sendo considerada uma droga relativamente segura nestas mesmas, sem dispensar determinadas precauções.

Dentre os efeitos adversos de maior destaque, estão o aumento do intervalo QT (com risco de graves arritmias), retinopatia, anemia, leucopenia, trombocitopenia, hemólise em indivíduos com deficiência de G6PD, náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal, entre outros.  Utilizando o acrônimo PICO para o levantamento dos estudos científicos que respondam à intervenção proposta, poderíamos expor a busca conforme as tabelas abaixo:

Uso de CQ/HCQ na fase precoce da COVID-19.

População-alvo/Intervenção/Comparativo/Outcome (desfechos)

Pacientes, acima de 18 anos, que apresentem diagnóstico de COVID-19, estando nos primeiros 7 dias dos sintomas, com ou sem critérios de gravidade, com ou sem necessidade de internação:

Hidroxicloroquina (dose: 1º dia: 400mg VO 12/12h; 2º – 5º dia: 400mg 1xd) ou Cloroquina (dose: 1º dia: 450mg VO 12/12h; 2º – 5º dia: 450mg
1xd) +/-

Azitromicina (dose: 500mg VO 1xd por 5 dias)

Pacientes com diagnóstico confirmado de COVID-19, que receberam, preferencialmente, tratamento semelhante ao dos grupos expostos, a exceção da intervenção proposta

Mortes por COVID-19, necessidade de ventilação mecânica, clearance viral, tempo de internação hospitalar, melhora dos sintomas, melhora da imagem radiológica.]

Frisa-se que os estudos clínicos considerados a seguir encontram-se listados em revisões de evidências elaboradas pelo Ministério da Saúde e pela Organização PanAmericana de Saúde.

Desta forma, fiamo-nos nas estratégias de busca, seleção de estudos, bem como, nas análises de qualidade metodológica destes documentos oficiais.

5) Revisão histórica das evidências:

Estudos in vitro com células Vero E6 (de rins de macaco verde) demonstraram que a HCQ tem ação antiviral, provavelmente decorrente da inibição do transporte intracelular do vírus, ao alcalinizar o interior dos endossomos e, possivelmente, por inibição da glicosilação do receptor de entrada ACE2 pelo vírus 1.

Outros estudos demonstraram atividade antiviral in vitro contra diversos vírus RNA, como HIV, vírus da raiva, ebola, Influenza, dengue, chikungunya, vírus das hepatite A e B 2; 3. Já quando utilizada em modelos animais, a droga não demonstrou benefício para ebola 4 , Influenza A, SARS-CoV-1 5 e chikungunya 6, com efeito contrário e amplificação da infecção por este último. Em contraste, houve resultados favoráveis para ZIKV 7 e gripe aviária 8.

Digno de nota, em estudo recente preprint (ainda não avaliado por pares), testando macacos experimentalmente infectados por SARS-CoV-2, nem a HCQ isolada, nem a combinação HCQ-AZM mostraram redução significativa da carga viral; ademais, em contraste com a inibição in vitro do vírus em células Vero E6, não se observou o mesmo efeito em modelo reconstituído de células de epitélio humano 9.

Em março de 2020, um estudo clínico francês de Gautret et al. 10, apresentado como “ensaio clínico não-randomizado” e aberto, despertou a atenção por mostrar significativo encurtamento de clearance viral nasal no 6º dia de doença, em pacientes que utilizaram HCQ (n=20; 57,1%), HCQ com azitromicina (n=6; 100%), comparado com o controle (n=16; 12,5%).

Dentre as grandes limitações apontadas no estudo estão: amostra reduzida aquém do cálculo projetado, perda de seguimento no grupo que fez uso de HCQ (incluiu 3 pacientes que foram para UTI), ausência de randomização, cegamento e placebo, além da definição dos controles (pacientes que se recusaram a tomar a droga e manejados em outro centro diferente do grupo com medicação).

Em contraste, Molina etal. 11 reportaram uma série de 10 pacientes que utilizaram HCQ, 8 deles permanecendo com PCR em swab nasal positivo nos dias 5 a 6 de doença. A ausência de grupo controle e o reduzido número de pacientes estão entre as notórias limitações do estudo.

Em abril de 2020, Chen Z et al. 12 apresentaram um ensaio clínico, na condição de preprint, tendo 31 pacientes sido tratados com HCQ e 31 não. Demonstrou menor tempo para remissão da febre e da tosse (média de dias 2,2 vs 3,2, p=0.0008), além de melhora evolutiva das imagens de tomografia (80,6% vs 54,8%) no grupo que usou HCQ.

Dentre as limitações apontadas no estudo: amostra relativamente pequena, falta de clareza quanto ao cegamento, ausência de placebo e ausência de descrição da gravidade basal entre os grupos para avaliar se eram comparáveis. Em outro ensaio clínico piloto, Chen J et al. 13, comparando 15:15 pacientes, não encontraram diferenças significativas para negativação de PCR de swab nasal, duração da hospitalização, remissão da febre e evolução radiológica. Pesquisadores concluíram que a dose padrão de HCQ não mostrou efeitos na melhora dos sintomas do paciente e na aceleração supressão virológica.

Dentre as limitações deste último, destacam-se a amostra pequena, não-cegamento e ausência de placebo.

Em documento de revisões sistemáticas sumárias de 08/05/2020, a OPAS 14 avaliou os estudos clínicos supracitados, num levantamento que reuniu 6 ensaios clínicos e 15 estudos observacionais envolvendo o uso de CQ/HCQ na COVID-19. A grande maioria dos estudos, segundo o documento, apresentou alto risco de vieses e muito baixo a baixo nível de certeza, a exceção do ensaio clínico de Silva Borba et al. 15, classificado como baixo-moderado risco de vieses e moderado grau de certeza.

Neste estudo, desenhado para comparar CQ em dose padrão com CQ em dose maior, como proposta por guideline chinês, houve elevada letalidade no último grupo (11 mortes), contraindicando dose maior.

Em maio de 2020, dois grandes estudos observacionais realizados nos EUA foram publicados. Geleris et al. publicaram uma coorte com 1446 pacientes, comparando pacientes que foram tratados (n=811 de 1376 incluídos) ou não com HCQ, com foco no desfecho composto de morte ou intubação orotraqueal. Pacientes tratados com HCQ estavam mais gravemente doentes no início do que aqueles que não receberam o medicamento. No geral, 346 pacientes evoluíram para os desfechos primários.

Na análise dos dados brutos (não ajustada), os pacientes que receberam HCQ tiveram maior probabilidade de ter um evento relacionado ao desfecho primário do que os pacientes que não receberam HCQ (HR = 2,37; IC 95%: 1,84 a 3,02). Na análise ajustada, não houve associação significativa entre o uso de HCQ e o desfecho primário composto (HR = 1,04; IC95%: 0,82 a 1,32).

Baseado nesses resultados, os autores informaram que a orientação clínica no centro médico que executou o estudo foi atualizada, e a recomendação de que pacientes com COVID-19 sejam tratados com HCQ foi removida. Contudo, os autores alertam que, devido ao desenho observacional, esses resultados não devem ser utilizados  como regra para descartar os benefícios ou danos do tratamento com a HCQ.

Por fim os autores concluem que os resultados desse estudo não apoiam o uso da HCQ no momento, fora dos ensaios clínicos randomizados em curso que avaliam sua eficácia. Publicada por Rosenberg et al., outra coorte envolveu 1438 pacientes admitidos em 25 hospitais da região metropolitana de Nova Iorque. As exposições analisadas foram uso de HCQ com azitromicina, HCQ isolada, azitromicina isolada ou nada.

O desfecho primário foi mortalidade hospitalar, tendo como secundários a ocorrência de parada cardíaca e achados anormais no eletrocardiograma (arritmia ou prolongamento do intervalo QT). Após análise ajustada, incluindo para condições preexistentes e gravidade da doença, não foram encontradas diferenças significativas na mortalidade entre os pacientes que receberam HCQ + AZM (HR ajustado = 1,35 [IC 95%, 0,76-2,40]), apenas HCQ (HR ajustado = 1,08 [IC 95%, 0,63- 1,85]) ou AZM isolada (HR ajustado = 0,56 [IC 95%, 0,26-1,21]), em comparação com nenhum dos medicamentos (grupo controle).

Achados anormais de ECG foram mais comuns entre os pacientes que receberam HCQ + AZM e HCQ isoladamente. No entanto, em modelos de regressão logística, não houve diferenças significativas entre os grupos. Em relação às paradas cardíacas, estas foram mais frequentes em pacientes que receberam HCQ + AZM, em comparação com pacientes que não receberam nenhum medicamento, mesmo após análise ajustada (OR 2,13 [IC 95%, 1,12-4,05]).

Os autores concluem, a partir dos resultados obtidos, que o tratamento com HCQ, AZM, ou ambos (HCQ + AZM), em comparação com nenhum dos tratamentos, não foi significativamente associado a diferenças na mortalidade hospitalar.

No entanto, alertam que a interpretação desses achados pode ser limitada pelo desenho observacional utilizado. Ensejando alerta, um estudo16 avaliou alterações do intervalo QT e eventos arrítmicos em 251 pacientes com COVID-19 tratados com HCQ-AZM. Prolongamento do QT ocorreu em paralelo com exposição às drogas, havendo encurtamento incompleto mesmo após cessão. Prolongamento extremo de QT > 500ms, um marcador de alto risco, ocorreu em 23% dos pacientes. Um paciente desenvolveu taquicardia ventricular polimórfica, necessitando cardioversão de emergência e 7 pacientes necessitaram término prematuro da terapia.

Os autores concluíram que a combinação HCQ-AZM prolonga significativamente o intervalo QT, com risco de evolução para torsades de pointes e morte.

Com foco no tratamento em fases mais precoces da doença, um estudo observacional de Million et al. 17, do mesmo grupo francês de Raoult D., foi publicado e envolveu 1061 pacientes que fizeram uso de HCQ + AZM em fase mais precoce da doença.

Foi realizada estratégia de testagem massiva com RT-PCR para inclusão no estudo, sendo incluídos 56 pacientes assintomáticos, contactantes de casos confirmados. A média de idade foi de 43,6 anos, média do início dos sintomas e primeira dose de 6,4 dias e 95% dos pacientes tinham à entrada escore de NEWS baixo (baixa gravidade).

Do total, 47 (4,4%) apresentaram carreamento viral prolongado, 46 (4,3%) evoluíram de forma clinicamente desfavorável e 8 morreram (0,75%); 2,3% reportaram sintomas leves. Os autores concluem que utilizado em fase mais precoce, o esquema é seguro e se associou à baixa mortalidade. Dentre as principais limitações deste estudo está a ausência de grupo controle, o que limita sobremaneira conclusões sobre benefício do tratamento.

Por sua vez, um ensaio clínico aberto chinês de Tang et al. 18 envolveu 150 pacientes, randomizados para uso e não uso de HCQ. A maior parte (99%) apresentava sintomas leves a moderados à entrada, sendo a média de tempo entre o início de sintomas e randomização de 16,6 dias. O desfecho primário foi conversão negativa (RT-PCR) no 28º dia, não sendo observada diferença significativa entre os grupos (85,4% vs. 81,3%).

Dentre as limitações deste, estão: a amostra reduzida, o não cegamento e não uso de placebo, a ausência de testagem mais precoce para conversão negativa e a ausência de avaliação de desfechos clínicos. Em carta ao editor, Konig et al. 19, baseados em dados do COVID-19 Global Rheumatology Alliance registry, reportaram dados de 121 pacientes portadores de doenças reumatológicas infectados por SARS-CoV-2 que já faziam uso basal de HCQ.

Destes, 49,6% necessitaram de internação. Entre 80 pacientes portadores de lúpus eritematoso sistêmico com COVID-19, não houve diferença significativa na frequência de hospitalização e necessidade de suporte ventilatório entre os que faziam e não faziam uso prévio de HCQ. Outro estudo 20 utilizando grande banco de dados de Israel envolvendo 14.520 testados para SARS-CoV-2, não se observou diferenças em termos de taxas de uso de HCQ e colchicina, levantando dúvidas acerca do papel protetivo destas medicações. Entre as limitações, estão o fato de serem dados secundários, incluindo a impossibilidade de saber a indicação, dose e duração do uso das drogas.

No que tange à azitromicina, a hipótese de sua utilidade apoia-se em suas ações imunomodulatórias e possíveis efeitos antivirais in vitro.

No entanto, há uma escassez de estudos clínicos que a avaliem no contexto da COVID-19, a exemplo do estudo limitado de Gautret et al.10. Em estudo de coorte envolvendo pacientes com MERS, não houve encurtamento de clearance viral e redução da mortalidade 21.

6) Discussão/Justificativa:

Como sabido, a maior parte dos fármacos cuja ação benéfica é sugerida por estudos in vitro, ao cabo de estudos clínicos, mostram-se falhos e não são empregados na prática médica. No caso específico da CQ/HCQ para SARS-CoV-2, mesmo sua ação antiviral in vitro e em modelos animais vem sendo questionada por estudo previamente citado. Estudos clínicos que sugeriram benefício para uso de CQ/HCQ na COVID-19 apresentam nível baixo/muito baixo de certeza, com alto risco de vieses.

Estudos com resultados que sugerem ausência de benefício vem se acumulando mais recentemente, muitos dos quais também com limitações metodológicas. Destacam-se os dois grandes estudos de coorte realizados nos EUA, ambos com grande poder estatístico, a sugerir a ausência de efeito positivo da droga em pacientes hospitalizados. Merece alerta o aumento de paradas cardíacas com uso de HCQ/AZM numa destas coortes e a observação de prolongamento significativo de QT em outro estudo. Com base nas evidências expostas, não se pode inferir ação benéfica da CQ/HCQ na prevenção e tratamento de qualquer fase da COVID-19.

As evidências são, até a presente data, mais desfavoráveis que favoráveis, em que pese a necessidade de mais estudos que permitam conclusões definitivas, especialmente ensaios clínicos bem desenhados. A COVID-19 ainda se encontra no rol de doenças virais sem tratamento medicamentoso específico, muitas delas com formas graves, letais ou complicações ominosas, a exemplo da dengue, zika, chikungunya, febre amarela, ebola, entre diversas outras.

Frisa-se que a maioria dos estudos não avaliou, até aqui, o emprego da droga em fases mais precoces da doença. A suposição de que a ação antiviral de uma droga tenha maior impacto clínico quando usada nos primeiros dias de sintomas, num momento de grande replicação viral, é plausível e encontra eco em outras infecções virais, como naquelas por herpes simples, varicela-zoster e Influenza. Contudo, isto não é um álibi que inverta a lógica científica e favoreça a indicação “até que se prove o contrário”: o ônus da demonstração recai sobre estudos que comprovem a eficácia. Ademais, estudos observacionais recentes, supracitados, desfavorecem a hipótese de que pacientes já em uso de HCQ estejam protegidos da infecção e evolução para gravidade.

A indicação indiscriminada de CQ/HCQ para todos os casos de COVID-19, acarretaria uso massivo da droga na população. Ao incluir todos os casos leves, considerando que a grande maioria não evolui para gravidade, os riscos da droga podem sobrepujar os já incertos benefícios. Por não ser inócua, salienta-se os riscos (em especial, arritmia grave) que podem ocorrer em uma população com perfil de riscos distinto daquelas que são tratadas com a mesma droga para outras condições – idade avançada, doenças cardiovasculares e uso concomitante de outras drogas que aumentam intervalo QT (p.ex. azitromicina) e estado grave/crítico.

Portanto, não se pode extrapolar a experiência de uso limitada a determinadas condições patológicas para a nova população. Além disso, uma eventual indicação precoce de CQ/HCQ enseja uma ainda maior necessidade de realização de testes confirmatórios. De outro modo, haverá prescrição irracional para condições outras que não COVID-19, dada a inespecificidade de muitos dos sintomas, expondo populações a efeitos colaterais sem indicação.

Finalmente, salienta-se que as mais importantes entidades médicas e científicas, nacionais e internacionais (sociedades médicas, instituições de pesquisa, órgãos sanitários e governamentais, editoriais de revistas científicas e hospitais universitátios), até o momento, NÃO recomendam expressamente o uso da CQ/HCQ de rotina para pacientes com COVID-19 fora de estudos experimentais, entre as quais: Sociedade Brasileira de
Infectologia (SBI), Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e Associação de Medicina Intensiva Brasileira22, Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI)23, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)24, Infectious Diseases Society of America (IDSA)25, US Food and Drug Administration (FDA)26 e National Institutes of Health (NIH)27, entre diversos
outros.

7) Recomendação:

Pelo exposto acima, NÃO recomendamos formalmente o uso de cloroquina/hidroxicloroquina, com ou sem azitromicina, para casos confirmados de COVID-19 que apresentem sintomas leves e em fase precoce. Ademais, face às evidências mais recentes, deliberamos a retirada da recomendação para uso da mesma em protocolo para pacientes internados. Estabelecemos pois que, em qualquer fase da doença, o uso torna-se OPCIONAL: compete ao médico a decisão de prescrevê-la, de forma responsável, individualizada e compartilhada com o paciente, mediante termo de  consentimento.

Uma vez prescrevendo, é dever ético do médico expor ao paciente de forma clara as incertezas científicas, isto é, informá-lo da ausência de eficácia comprovada, bem como seus potenciais efeitos colaterais. Desta forma, nos posicionamos contra a elaboração de “kits” de tratamento para COVID-19, sob pena de causar a impressão para médicos e usuários de que há um tratamento de eficácia comprovada, ou mesmo uma cura, desencadeando uma corrida às unidades de saúde.

8) Considerações finais

Estamos diante de uma pandemia sem precedentes na História moderna, que já atingiu a marca de centenas de milhares de mortes no mundo e dezena de milhares no Brasil. Como grupo de médicos infectologistas, estamos atuando direta e indiretamente no atendimento aos pacientes com COVID-19, em todos os níveis de atenção (primária, urgência e hospitalar especializada). É sob esta condição que enxergamos a necessidade de respostas urgentes para a população. Enfatizamos a necessidade de distanciamento social, a única medida por ora comprovadamente eficaz para reduzir casos e mortes.

Enfatizamos a necessidade de ampliar a testagem e fortalecer a rede assistencial, em todos os níveis de atenção, a fim de identificar os casos, prescrever medidas de isolamento, monitorar sinais precoces de agravamento e ampliar a oferta de leitos. A despeito da emergência global, a adoção de medidas terapêuticas não dispensa preceitos mínimos da medicina baseada em evidência. A ciência não é supérflua neste momento, senão o meio que, por excelência, é capaz de dar as respostas urgentes e necessárias; do contrário, sob pena de serem preconizadas medidas danosas e ilusórias à população e desviar o foco dos esforços necessários. Não à toa, centenas de estudos estão sendo semanalmente publicados em todo o mundo. O conhecimento médico que pretende ser alçado à
recomendação deve se basear em dados e estudos, e não em depoimentos de experiência pessoal, divulgados por canais informais.

Nota final:

Face à produção contínua de novas evidências, novas recomendações poderão ser atualizadas a qualquer momento.

Referências:

1 LIU, J. et al. Hydroxychloroquine, a less toxic derivative of chloroquine, is effective in inhibiting SARS-CoV-2 infection in vitro. Cell Discov, v. 6, p. 16, 2020. ISSN 2056-5968. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32194981 >.

2 TOURET, F.; DE LAMBALLERIE, X. Of chloroquine and COVID-19. Antiviral Res, v. 177, p. 104762, 05 2020. ISSN 1872-9096. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32147496 >.

3 DEVAUX, C. A. et al. New insights on the antiviral effects of chloroquine against coronavirus: what to expect for COVID-19? Int J Antimicrob Agents, p. 105938, Mar 2020. ISSN 1872-7913. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32171740 >.

4 FALZARANO, D. et al. Lack of protection against ebola virus from chloroquine in mice and hamsters. Emerg Infect Dis, v. 21, n. 6, p. 1065-7, Jun 2015. ISSN 1080-6059. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25988934 >.

5 BARNARD, D. L. et al. Evaluation of immunomodulators, interferons and known in vitro SARS-coV inhibitors for inhibition of SARS-coV replication in BALB/c mice. Antivir Chem Chemother, v. 17, n. 5, p. 275-84, 2006. ISSN 0956-3202. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17176632 >.

6 ROQUES, P. et al. Paradoxical Effect of Chloroquine Treatment in Enhancing Chikungunya Virus Infection. Viruses, v. 10, n. 5, 05 2018. ISSN 1999-4915. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29772762 >.

7 LI, C. et al. Chloroquine, a FDA-approved Drug, Prevents Zika Virus Infection and its Associated Congenital Microcephaly in Mice. EBioMedicine, v. 24, p. 189-194, Oct 2017. ISSN 2352-3964. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29033372 >.

8 YAN, Y. et al. Anti-malaria drug chloroquine is highly effective in treating avian influenza A H5N1 virus infection in an animal model. Cell Res, v. 23, n. 2, p. 300-2, Feb 2013. ISSN 1748-7838. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23208422 >.

9 AL., M. E. Hydroxychloroquine in the treatment and prophylaxis of SARS-CoV-2 infection in non-human primates: Nature Science – under review 2020.

10 AL., G. E. Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID-19: results of an open-label non-randomized clinical trial: International Journal of Antimicrobial Agents – In Press 17 March 2020 2020.

11 AL., M. E. No evidence of rapid antiviral clearance or clinical benefit with the combination of hydroxychloroquine and azithromycin in patients with severe COVID19 infection: Médecine et Maladies Infectieuses (2020) 2020.

12 AL., C. E. Efficacy of hydroxychloroquine in patients with COVID-19: results of a randomized clinical trial. medRxiv – preprint 2020.

13 AL., C. J. E. A pilot study of hydroxychloroquine in treatment of patients with common coronavirus disease-19 (COVID-19): J Zhejiang Univ (Med Sci). 49 Issue (1): 0-0 2020.

14 Ongoing Living Update of Potential COVID-19 Therapeutics: summary of rapid systematic reviews – May 8, 2020. Pan-American Health Organization (PAHO) 2020.

15 AL., S. B. E. Chloroquine diphosphate in two different dosages as adjunctive therapy of hospitalized patients with severe respiratory syndrome in the context of coronavirus Vírion Infectologia (SARS-CoV-2) infection: Preliminary safety results of a randomized, double-blinded, phase IIb clinical trial: MedRxiv – preprint 2020.

16 CHORIN, E. et al. QT Interval Prolongation and Torsade De Pointes in Patients with COVID-19 treated with Hydroxychloroquine/Azithromycin. Heart Rhythm, May 2020. ISSN 1556-3871. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32407884 >.

17 MILLION, M. et al. Full-length title: Early treatment of COVID-19 patients with hydroxychloroquine and azithromycin: A retrospective analysis of 1061 cases in Marseille, France. Travel Med Infect Dis, p. 101738, May 2020. ISSN 1873-0442. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32387409 >.

18 TANG, W. et al. Hydroxychloroquine in patients with mainly mild to moderate coronavirus disease 2019: open label, randomised controlled trial. BMJ, v. 369, p. m1849, May 2020. ISSN 1756-1833. Disponível em: <
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32409561 >.

19 KONIG, M. F. et al. Baseline use of hydroxychloroquine in systemic lupus erythematosus does not preclude SARS-CoV-2 infection and severe COVID-19. Ann Rheum Dis, May 2020. ISSN 1468-2060. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32381561 >.

20 GENDELMAN, O. et al. Continuous hydroxychloroquine or colchicine therapy does not prevent infection with SARS-CoV-2: Insights from a large healthcare database analysis. Autoimmun Rev, p. 102566, May 2020. ISSN 1873-0183. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32380315 >.

21 ARABI, Y. M. et al. Macrolides in critically ill patients with Middle East Respiratory Syndrome. Int J Infect Dis, v. 81, p. 184-190, Apr 2019. ISSN 1878-3511. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30690213 >.

22 Diretrizes para o Tratamento Farmacológico da COVID-19. Consenso da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, 18 de maio. 2020.

23 Parecer Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) sobre a utilização da Cloroquina/Hidroxicloroquina para o tratamento da COVID-19 – 18 de maio. 2020.

24 Fundação Oswaldo Cruz – Nota Técnica – Orientações sobre o uso da Cloroquina para tratamento de pacientes  infectados com SARS-CoV-2, agente etiológico da Covid-19. 2020.

25 Infectious Diseases Society of America Guidelines on the Treatment and Management
of Patients with COVID-19. Last updated April 21, 2020 at 12:22 PM EDT and posted
online at www.idsociety.org/COVID19guidelines 2020.

26 U.S. Food & Drugs Administration: Hydroxychloroquine or Chloroquine for COVID-19: Drug Safety Communication – FDA Cautions Against Use Outside of the Hospital Setting or a Clinical Trial Due to Risk of Heart Rhythm Problems – 24 de abril. 2020.

27 National Institutes of Health – Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Treatment
Guidelines. 2020.

 

Vírion Infectologia
RAZÃO SOCIAL: GURI – Serviços Médicos LTDA.
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CRM orienta há dois meses uso de cloroquina na primeira fase da coVID-19

Blog Marco Aurélio D’Eça teve acesso a Ofício encaminhado aos hospitais. ainda em março, pelo Conselho Regional de Medicina do Maranhão, orientando sobre o uso da substância, associada a Azitromicina e Zinco, tendo como alvo principal “pessoas idosas ou portadores de doenças crônicas”

 

Conselho Regional de Medicina orienta uso da cloroquina já na primeira fase da doença, mas só agora se debateu sobre o tema

Uma nova polêmica abriu-se nas redes sociais e na imprensa, desde o fim de semana, após o governador Flávio Dino (PCdoB) publicar informação sobre doação de kits para tratamento da coVID-19, depois retirada de seus perfis.

A partir das notas de Dino – que vinha criticando duramente o presidente Jair Bolsonaro por defender o uso em massa da hidroxicloroquina – iniciou-se uma discussão sobre o uso da substância já na primeira fase da doença, o que seria uma novidade para parte da imprensa.

Mas, na verdade, este protocolo já é usado desde o início da pandemia de coronavírus.

Ou pelo menos deveria estar sendo usado nos hospitais maranhenses.

O blog Marco Marco Aurélio D’Eça teve acesso a Ofício do Conselho Regional de Medicina do Maranhão (CRM-MA), encaminhado, ainda em março, à Prefeitura de Imperatriz, com orientações sobre o uso da Cloroquina já na primeira fase da doença. (Veja print do documento abaixo)

Documento do CRM-MA orienta para início do tratamento com cloroquina já na primeira fase da coVID-19, quando não há inflamação

O documento – o mesmo encaminhado também à Prefeitura de São Luís e ao Governo do Estado – foi atualizado em 1º de maio e orienta sobre o uso da cloroquina associada à Azitromicina e ao Zinco.

– O principal objetivo deste protocolo é sugerir que o tratamento da CoVID-19 seja iniciado o mais precocemente possível, ainda na fase infecciosa, pois no momento em que se inicia a fase inflamatória da doença, a condição do paciente se deteriora rapidamente, e muitos irão precisar de leitos (…) sobrecarregando o sistema de saúde (…) –  diz o protocolo, já em sua abertura.

E qual é esse protocolo usado, repita-se, desde março?

O próprio documento aponta:

– Hidroxicloroquina:  1º dia – 400mg via oral, de 12 em 12 horas. Do 2º ao 7º dia: 400mg via oral ao dia – diz o protocolo, que aponta também azitromicina e zinco associados ao tratamento.

Logo abaixo, o CRM-MA faz uma advertência: o tempo de uso pode variar segundo avaliação médica, podendo ser usado de 5 até 10 dias, conforme o caso.

O documento do CRM-MA serviu, inclusive, como base para dois posts do blog Marco Aurélio D’Eça.

O primeiro., em 7 de maio, denunciava, com base em relatos de pacientes, “preços abusivos de cloroquina em farmácias…”, motivados, segundo as denúncias, pelo confisco de lotes pelo governo do estado.

O outro post – uma reportagem especial – mostrava como o “Maranhão, mesmo contestando, usa cloroquina contra coVID-19…”

O documento do CRM-MA, de oito páginas, assinado pelo Conselheiro Nailton Jorge Ferreira Lyra, discorre detalhadamente sobre estudos dos efeitos da hidroxicloroquina e traz, inclusive, modelo de autorização obrigatória para os pacientes.

No caso específico do Governo do Estado, o próprio Flávio Dino reconheceu o uso conforme a orientação médica, durante a entrevista à TV Mirante, na noite da segunda-feria, 18.

– Há muitas semanas pacientes têm recebido a hidroxicloroquina – frisou ele, dizendo ser estranha a politização deste tema.

– Uma polêmica desnecessária – disse o governador. 

Que ele próprio siga as suas palavras…

 

 

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SSP usa Código Penal contra manifestantes anti-Flávio Dino

Grupo que protestava contra o governador foi convocado a depor pela Superintendência de Investigações Criminais, sob alegação de estar furando as regras de isolamento, gerando aglomeração ilegal; à noite, houve panelaço contra Dino, durante sua entrevista à TV Mirante

 

Manifestantes gravam vídeo em frente à SEIC, para onde oram intimidados a ir após fazer críticas ao governador Flávio Dino 

A intimação de um grupo de manifestantes que protestava contra o governador Flávio Dino (PCdoB) gerou polêmica nas redes sociais, nesta segunda-feira, 18, e acusações de autoritarismo contra a Secretaria de Segurança.

Com críticas à falta de transparência do governo e o não-esclarecimento do uso do dinheiro encaminhado pelo Governo Federal, o grupo fazia protesto pacífico, mas foi rechaçado por agente da Superintendência de Investigações Criminais (SEIC).

– Todo mundo aqui que tá no vídeo foi indiciado, foi intimado a prestar depoimento por que criaram um grupo de WhatsApp; isso é uma ação coercitiva que estão fazendo com os cidadãos maranhenses. Isso é errado – diz um dos homens.

O outro duz que a ação é “perseguição”, fruto de uma “ditadura comunista”.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública chamou de ´”noticias falsas” as informações sobre o enquadramento dos manifestantes e alegou que “as intimações derivaram de normas sanitárias em, vigor, que proíbem aglomerações”.

À noite, em contato direto com o secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela, o blog Marco Aurélio D’Eça foi informado que os manifestantes foram enquadrados no artigo 268 do Código Penal.

– Primeiro foram ouvidos três; hoje [ontem] foram ouvidos nove – disse o secretário.

A nota da SSP primeiro chama de “fake news” a informação sobre a intimação dos manifestantes; depois, ela própria confirma que houve o indiciamento

Questionado sobre outras ações deste tipo – antes ou depois do enquadramento dos manifestantes anti-Dino – Portela garantiu que pelo menos oito foram conduzidos no mês de abril em São Luís, “e mais alguns em Imperatriz”.

– Estão proibidas quaisquer concentração. Todos sabem. Da oposição ou de Governo. A devida judicial vale para todos. Não é uma questão política. É sanitária e de saúde pública. O isolamento social é mundial, de acordo com o início da contaminação. Acabaram o lockdown e o rodízio de veículos. Permanece a proibição judicial de aglomerações – justificou o secretário de Segurança.

À noite, quando Flávio Dino concedia entrevista à TV Mirante, houve panelaço em alguns locais de São Luís.