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Deslumbre na Península: o limite entre requinte e cafonice

Ao achar que podem escolher clientes por padrão social, donos de bares e restaurantes da Ponta D’Areia tentam privatizar a praia, expondo a breguice e a afetação dos “novos ricos”; em resposta, populares ridicularizam a tentativa de segregação social, revelando a diferença entre o ter e o ser numa ilha cercada de miséria

 

O “Pagodão da Península” incomodou moradores e empresários da pretensa área “Triplo A” de São Luís; e a rejeição só expôs a cafonice de gente rica

Ensaio

A área da Ponta D’Areia denominada comercialmente de Península é, de fato, um setor de São Luís de belo aspecto visual, mas que sofre com os mesmos problemas estruturais vividos por ricos e pobres em toda a cidade.

Mesmo assim, tinha tudo para se transformar em área descolada e de requinte, com as construções residenciais de luxo iniciadas na última década.

Esse “refinamento” se perdeu com a ganância brega de empresários do setor de bares e restaurantes, que começaram a proliferar na área nos últimos anos.

Cafonas e elitistas, sem a menor visão de mundo ou noção do que seja premium, “gourmet” ou “cinco estrelas” – termos, aliás, considerados bregas na medida do exagero de suas aplicações – estes empresários querem privatizar a área de praia, em busca do “ouro” dos novos ricos que por lá passaram a habitar.

Mas ao contrário do “requinte” esperado pelos idealizadores, a afetação do autodenominado “Posto A”, por exemplo, passou a afastar quem tem classe.

Além disso, ambientes naturais tendem a atrair gente que gosta de ar livre e disposta a quebrar regras; a juventude descolada propriamente dita.

Incomodados com a “invasão hype”, empresários que montaram versões pretensamente premium de suas lojas, tentam agora fazer seleção natural da espécie que consideram apta a sentar em suas mesas.

E acabaram só piorando as coisas.

A postura kistch apenas mostrou o tamanho da cafonice dessa gente que quer privatizar a Península.

Com ou sem refinamento, bares da Península também desrespeitam a lei; e foram autuados pela força-tarefa que fiscaliza as regras da pandemia

Especialistas em etiqueta e comportamento ensinam que refinamento, finesse e sofisticação não estão à venda em lojas de grifes, mas são aspectos intrínsecos à própria personalidade.

Para esses estudiosos, classe não é algo que se encontra em prateleiras de supermercado e elegância não se constrói com placas e decretos.

Ao tentar forçar um requinte onde há apenas descontração, esses empresários extrapolam a linha do brega, transformando um ambiente que poderia ser de puro charme em exemplo acabado de preconceito sem-berço dos que alcançam poder e dinheiro sem a necessária visão de mundo.

Pior para os moradores, que veem sua habitação perder valor – não pela presença de populares nas areias, mas pela afetação brega dos donos de negócios.

E o que poderia ser ambiente de charme se transforma a cada fim de semana em exposição do ridículo.

Por que, os que tem a simplicidade do refinamento, vão buscar, naturalmente, ambientes menos expostos.

É simples assim…

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Bares da Península desrespeitam leis, promovem shows e aglomerações

Habitada em sua maior parte por políticos, membros do Judiciário e do alto escalão do governo, a área impõe uma espécie de “sabe com quem está falando?” aos agentes de fiscalização, que acabam reprimindo apenas pequenos bares, em bairros comunitários e na periferia de São Luís

 

Música ao vivo em restaurante da Península da Ponta D’Areia, onde os “nobres” ignoram decreto do governo e intimidade a ação da fiscalização

Enquanto bares e restaurantes dos bairros populares e das comunidades da periferia de São Luís sofrem com a repressão policial, os estabelecimentos da Península da Ponta D’Areia passam ao largo da lei que proíbe música ao vivo e aglomerações.

Desde que voltou a funcionar à noite, a região tida como a mais nobre de São Luís promove festas, aglomerações na praia e até shows de música ao vivo, que estão proibidos em toda a cidade por causa da pandemia.

Foi o que aconteceu, por exemplo, nesta quinta-feira, 16 – como mostra a imagem que ilustra este post – e está programado também para este fim de semana.

Na Península moram políticos, membros do Judiciário e do Ministério Público, servidores de alto escalão do próprio governo e empresários, que ignoram as regras da boa convivência e do combate à pandemia de coronavírus.

Este “status” inibe as autoridades de fiscalização impondo a eles o intimidador “sabe com quem está falando?”.

No final de semana passado, aglomeração como esta na Cidade Operária foi duramente reprimida pela Vigilância Sanitária, Blitz Urbana e polícia

Enquanto isso, as ações de repressão das autoridades do governo seguem firmes em bairros populares e na periferia, onde a ordem de não gerar aglomerações e realizar música ao vivo é imposta à força, inclusive com multas e ameaças de prisão.

O governo Flávio Dino (PCdoB) estuda liberar voz e violão em decreto ainda sem previsão para ser editado.

Mas, ao que parece, na Península pouco importa se o decreto já exista ou não…