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Mosca na Sopa…

Eu sou a mosca
Que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca
Que pintou prá lhe abusar.

Eu sou a mosca
Que perturba o seu sono
Eu sou a mosca
No seu quarto a zumbizar.

E não adianta
Vir me detetizar
Pois nem o DDT
Pode assim me exterminar
Porque você mata uma
E vem outra em meu lugar…

-“Atenção, eu sou a mosca. A grande mosca. A mosca que perturba o seu sono. Eu sou a mosca no seu quarto a zum-zum-zumbizar. Observando e abusando. Olha do outro lado agora. Eu tô sempre junto de você. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.”

Quem, quem é?
A mosca, meu irmão!

E não adianta
Vir me detetizar
Pois nem o DDT
Pode assim me exterminar

Porque você mata uma e vem outra em meu lugar…

Letra e música de Raul Seixas
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Ética é para os outros…

 

A linha é tênue entre a defesa do legal e do ilegal

Por Cláudio Manoel, com edição

Ética é o nome dado ao ramo da Flisofia dedicado aos assuntos morais. A palavra deriva do grego e quer dizer “aquilo que pertence ao caráter”.

Diferencia-se da moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a normas, tabus e costumes recebidos, a ética busca fundamentar o “bom modo de viver”.

Portanto, seria uma espécie de “Ciência da Conduta”.
(…)
Um dos aspectos menos abordados e mais presentes nesta dicussão é que, ao que parece, para uma certa galera (que, infelizmente, não é pequena) e em determinados ambientes (que também não são poucos), a ética é uma coisa que deve ser cobrada por quem é de esquerda e devida, apenas, por quem está no outro lado do “espectro ideológico”.

Começando pelo tal código de conduta, vejamos o maior dos consensos; “não matarás”.

Che Guevara: e assassino a ìcone pop...

Na competição dos tiranos psicopatas de cada lado, os de direita sempre parecem mais odiosos e vis que os de la sinistra, mesmo quando os de cá matam dezenas de vezes mais que os de lá.

Quem usaria uma camiseta de Pinochet (tirando sua vetusta e diminuta tchurma)? Quantos não acharam (e ainda acham) Mao e Che ídolos pop?
(…)
Se matar, torturar e tiranizar é condenável apenas se o “protagonista” não for da mesma causa/partido/movimento/milícia (…), o que dizer de atos menores, como roubar, superfaturar, desviar verbas?

Nota fria, orçamentos descabidos e outras “práticas abusivas” só são repulsivas quando praticadas por seres idem, como os Barbalhos, Canalheiros e Ribamares de sempre.

Quando são os Dirceus, os “movimentos sociais” (quase todos em direção ao caixa), a sindicatocracia, as ONGs (Organizações Não-Gratuitas), aí é tudo complô da mídia.

Vida boa, né?…

Publicado originalmente na revista Alfa, ano 3, nº 4, de abril de 2012.
Cláudio Manoel é humorista e integrante do grupo Casseta & Planeta
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Família e amigos fazem missa em homenagem a Décio Sá…

Décio Sá: sete dias e nada...

Será as 9h30 horas de hoje, na Igreja da Sé, a Missa de Sétimo dia do jornalista Décio Sá.

O evento religioso será celebrado a pedido da família, dos amigos e dos colegas de trabalho e de profissão do jornalista.

Décio Sá foi assassinado segunda-feira passada, com seis tiros, em um restaurante na Avenida Litorânea.

Além da Missa de 7º Dia, será realizada uma caminhada em sua homenagem, terça-feira, na Avenida Litorânea.

No evento, será cobrada a prisão de todos os envolvidos no caso – inclusive os mandantes – e a rapidez na elucidação.

A caminhada da paz também será realizada às 9h30, com início da área do parquinho da Litorânea.

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Lições de uma morte…

Por João Melo e Sousa Bentivi

Essa crônica pode estar velha no dia da publicação. Escrevo-a na sexta, será publicada domingo e, nesse tempo, todas as notícias podem ter se tornado velhas. O que resta esperar é que o envelhecimento seja construtivo.

Morreu o jornalista Décio Sá. Aliás, não morreu, mataram-no, foi assassinado!

Conheci o Décio criança, fomos criados no mesmo bairro, o antigo Barés, hoje tristemente incorporado pela imundície da Feira do João Paulo. Como todos nós, do Barés, de origem humilde.

  A vida lhe foi pródiga: venceu.

Não tínhamos relações de intimidade, até porque a diferença de idade entre nós pouco permitiu de convivência e, no desenrolar de nossas vidas, trilhamos caminhos bem opostos. Por motivos ideológicos e profissionais, Décio Sá, desde cedo, vinculou-se à estrutura Mirante-Sarney e eu, por meus motivos, caminhei exatamente ao contrário, nunca estive nem próximo a essa nau. Graças a Deus!

Isso não fez de nenhum de nós melhor ou pior, fez-nos, pura e simplesmente, diferentes.

Muita gente reclama dos jornalistas que defendem posições, como era o caso do Décio Sá e eu sempre acho hipócritas aqueles que se vangloriam de fazer o “tal jornalismo imparcial”. Jornalismo imparcial seria o mesmo que comida insossa ou água morna: nem serve para beber, tampouco pela um porco: toucinho cabeludo nunca fez sucesso!

O jornalista que faz bem para a sociedade tem que ter a contundência da parcialidade. Parcialidade não rima, necessariamente, com malandragem, rima com ter um lado político, econômico ou ideológico. É melhor ter um lado e assumi-lo que ficar se posicionando de maneira sutil e hipócrita.

O meu saudoso mestre e amigo José Maria do Amaral ensinou-me que quem não tem inimigos também não pode fazer amigos. Desconfie-se, pois, desse tipo de indivíduo que diz ter somente amigos: ou é mentiroso ou não vale nada. Melhor que seja mentiroso.

O Décio Sá foi morto a mando de um ou mais inimigos e daí sobram lições.

Creio que não tomava os devidos cuidados com as pessoas que tinha certeza de tê-las incomodado. Posso estar errado, mas ser da equipe Mirante, próxima ao núcleo central do governo do Maranhão, deveria lhe dar uma certa sensação de segurança.

A segunda lição é que a insegurança, em vez de ser exceção, é regra no Maranhão. Os fatos afirmam:

Não era um jornalista qualquer. Era um dos mais lidos, da maior rede de comunicação do estado, amigo das mais altas autoridades, incluindo a governadora e José Sarney.

Com todos esses predicados, os assassinos o mataram em um restaurante lotado, cedo da noite, sem capuz ou disfarce, com a certeza da impunidade.

A terceira lição mostra a deterioração das relações sociais. Nunca advoguei a farsa social que canoniza o morto, principalmente se a morte é violenta, mas é inadmissível detratar-se do morto, qualquer que seja o motivo, ainda que relevante, pois o morto tem a incapacidade absoluta de defender-se e, assim procedendo, se estará promovendo pelo menos uma absoluta covardia.

A quarta lição é uma equação em aberto: o governo tem a maior de todas as obrigações – prender executores e mandantes.

Os outros assassinos de aluguel (que no Maranhão, acredita-se, são muitos) estão vendo o rio passar. Caso a morte do Décio Sá fique na impunidade, será um grande combustível a encorajar os crimes de encomenda. A impunidade da morte do Décio Sá fará com que qualquer motivo, mesmo banal, atinja a condição de relevância para a execução de alguém.

Encontrar, prender, julgar e colocar na cadeia esses facínoras é condição de segurança pública. Alguém, desavisado, diria: só porque é da Mirante? Não, nesse caso não se trata de Mirante ou um jornalzinho casca de coco: o fato independe do veículo.

Assim, espera-se que, desse triste drama, sobre algo de relevância. Que os sentimentos menores não se externem. Que os facínoras recebam o merecido e que outros jornalistas não tombem de maneira tão violenta.

Na adolescência, li um livro – A Marca da Violência – e não recordo o nome do autor, mas uma frase desse livro me marca até hoje: “o nascer é o início da vida, o morrer é o fim, mas uma morte violenta é um fim antes do fim”.

Creio que se aplica ao Décio Sá!…

Bentivi é médico otorrino e legista, jornalista, advogado, professor e músico
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Jornalistas denunciam novas ameaças no Maranhão…

Policial observa corpo de Décio, após execução em São Luís

Wilson Lima, do IG

morte do jornalista Décio Sá , repórter de política do jornal “O Estado do Maranhão”, veículo de comunicação da família Sarney e titular do blog com a maior audiência no Estado, trouxe uma sensação de pânico e medo à imprensa maranhense. De quebra, expôs feridas antes consideradas pontuais e mostrou que tentativas de cerceamento à liberdade de imprensa no Estado são mais comuns do que se imagina.

Apenas nos últimos três anos, vários jornalistas e veículos foram censurados ou sofreram tentativa de cerceamento da liberdade de imprensa.

Em 2010, o repórter Itevaldo Júnior, editor de Política de “O Estado” e dono de um blog especializado na análise do Poder Judiciário maranhense, foi proibido de citar o nome do juiz Nemias Nunes Carvalho após uma denúncia segundo a qual o magistrado teria, supostamente, comprado uma fazenda de uma foragida da justiça beneficiada por uma decisão judicial de Carvalho.

Um ano antes, uma outra decisão da Justiça do Maranhão obrigou o “Jornal Pequeno”, veículo de oposição à Família Sarney, a retirar do site uma reportagem com dados da Operação Factor, que citava o nome do empresário Fernando Sarney. No ano passado, a repórter Carla Lima, de O Estado do Maranhão, foi agredida por seguranças do prefeito de São Luís João Castelo (PSDB). O Estado faz oposição à prefeitura da capital.

Décio Sá, em reprodução de foto do seu blog

Os chamados bloqueiros são os mais ameaçados no Estado. Alguns já receberam ligações ou comentários anônimos com ameaças de morte por causa das postagens de suas páginas pessoais.

O blogueiro Caio Hostílio que já responde a 86 processos impetrados por políticos e gestores públicos que foram alvo de denúncias é um destes casos. Ele foi um dos maiores críticos da greve da Polícia Militar ocorrida no final do ano passado. “Com a morte do Décio, percebemos que os comentários com ameaças podem se cumprir a qualquer momento”, disse Hostílio.

O jornalista Marco Aurélio D’Eça, repórter de política de “O Estado do Maranhão”, também tem sido constantemente alvo de ameaças. Alvo de seis processos, D’Eça disse que a morte de Décio obrigou todos os jornalistas a mudarem hábitos e rotinas no Estado. “Eu não ando mais tranquilo. Quando uma moto chega próxima do meu carro, surge o receio de que algo aconteça”, afirmou.

– Se eles conseguiram matar Décio, que era o braço direito de Sarney, o que não podem fazer com gente que é ‘peixe-pequeno’- complementou o jornalista Marcelo Vieira, também titular de um blog sobre política. Continue lendo aqui…

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Campanha por Justiça e segurança ganha as ruas de SL…

Outdoor em frente à Assembleia Legislativa convida para passeata da paz

Já está nas ruas a campanha de profissionais da comunicação – jornalistas, radialistas, blogueiros, fotográfos – amigos e familiares do Décio Sá cobrando a elucidação do seu assassinato.

Dezenas de autdoors estão espalhados por São Luís, com a mensagem “Justiça” e convidando para a caminhada em sua homenagem, no feriado da próxima terça-feira.

Também já foram distribuídos milhares de panfletos, em bancas de revistas, bares, restaurantes, praias e principais avenidas de São Luís.

Vários carros-de-som ciculam desde a manhã deste sábado, falando do crime contra Décio Sá, pedindo justiça e convidando a população para o movimento de terça-feira.

A caminhada é uma forma de pressionar as autoridades pela rápida elucidação do crime…

 

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Luís Fernando representa Roseana na Sudene…

Luis Fernando: representante oficial do governo

O chefe da Casa Civil, Luís Fernando Silva, é o representante oficial da governadora Roseana Sarney (PMDB) em todos os eventos do governo, no Maranhão e fora dele.

Ontem, por exemplo, ele participou, em Recife (PE), da reunião dos governadores com a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

Luís Fernando representa Roseana por um motivo lega.

O vice-governador Washington Oliviera (PT) é candidato a prefeito de São Luís. Nesta condição não pode, desde o dia 7 de abril, participar de nenhum ato oficial do governo, sob pena de tornar-se inelegível.

Como Roseana estava em Brasília, desde quarta-feira, coube ao chefe da Casa Civil tratar dos assuntos do Maranhão na reunião da Sudene.

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Sobre gorilas e abutres…

Por Fábio Câmara

Buana, buana, que COVARDIA! A atitude de BUANA PEDROSA, “representante dos direitos humanos” no nosso Estado, é absolutamente reprovável, vergonhosa e COVARDE.

Os assassinos de Décio Sá foram covardes ao executarem-no sem que o mesmo tivesse qualquer chance de defesa. BUANA PEDROSA é igualmente COVARDE ao chamar o Décio de MACACO quando este não está mais entre nós, vivo e pronto para se defender.

Como é próprio do grande CAÇADOR “BRANCO”, BUANA PEDROSA atira bem à distancia e fere COVARDEMENTE.

É bem verdade que o blog de BUANA PEDROSA tem um acesso e postagens tão medíocres quanto o próprio. Porém, por que BUANA PEDROSA não se armou de coragem e franqueza, marcas registradas da pena de Décio Sá, e expressou a sua opinião preconceituosa no seu arremedo de blog quando Décio ainda vivo?

Preconceituosa e RACISTA SIM.

Ou a expressão ’JORNALISMO MARROM’, utilizada por BUANA, não tem a mesma  disfarsatez PRECONCEITUOSA E RACISTA dos que empregam o termo DENEGRIR – TORNAR NEGRO – para se referirem ao ato de depreciar/pejorar moralmente a outrem?

BUANA PEDROSA não é um RÁBULA QUALQUER!

Ao esbanjar no latim, revela um ‘modus operandi’ próprio de quem sabe bem o que diz e de quem DISFARÇA muito bem o que realmente pretende dizer.

“Não me surpreenderia se ao cabo das investigações se descobrissem motivos bem menos nobres para o assassinato”. BUANA PEDROSA – Ipsis Litteris.

PRECONCEITUOSAMENTE, BUANA PEDROSA emite aí mais que um juízo de valor.

BUANA atenta contra a racionalidade ao sugerir, o que só ele concebe, existirem ‘MOTIVOS MAIS E MENOS NOBRES’ para que um assassinato brutal seja cometido.

PASMEM! Logo  BUANA PEDROSA, destacado defensor, por dever de ofício, dos sagrados DIREITOS HUMANOS.

Até por uma questão de justiça, a bem da verdade, é necessário que seja dito: quando criminosos condenados se rebelam nas penitenciárias e cadeias do nosso Estado e das nossas cidades, seja em razão da super lotação ou do cardápio repetitivo e pouco agradável ao paladar, É BUANA PEDROSA QUEM LHES SAI EM PRONTO SOCORRO.

Afinal, CRIMINOSOS CONDENADOS, apesar das desumanidades cometidas, também são seres humanos, em sua maioria analfabetos e não GORILAS DIPLOMADOS.

“O crime de que foi vítima Décio é colonial. Representa apenas vindita infame”. BUANA PEDROSA – Ipsis Litteris

Você quer PRECONCEITO mais explícito que esse? O que faltou, nessa frase, para que BUANA afirme que Décio foi morto por uma BANALIDADE?

O POST de BUANA, que ele mesmo intitula de “Um Assassinato Contra A Democracia”, acaba sendo reduzido, nessa frase infeliz, a MERA REPRESENTAÇÃO DE UMA RELES VINGANCINHA COLONIAL.

Mas, repare na profundidade das palavras e na riqueza de significados nelas contidos.

A palavra “APENAS”, revela BUANA BANALIZANDO O FATO; A palavra “VINDITA”, segundo o Dicionário Aurélio, significa, também, “ACERTO LEGAL”.

Eis aqui, BUANA dizendo, disfarçada e medrosamente, como lhe parece ser peculiar, que Décio fez por merecer e que teve, por pagamento, o acerto natural.

Décio não está mais aqui para se defender de mais esse ataque covarde e cruel. Os 5 ou 6 tiros que o vitimaram parecem, aos olhos de BUANA PEDROSA, terem sido poucos.

JORNALISTA MARROM e GORILA DIPLOMADO. Mais 2 tiros COVARDES desferidos contra um indefeso.

Mas há quem saia em defesa do Décio Sá, da imprensa livre, da democracia, da justiça, da paz e da humanidade. Não se trata aqui de um processo de canonização do jornalista Décio Sá.

NÃO! Trata-se mesmo é de clamar por justiça para que os crimes sejam silenciados. Trata-se de evocar a coragem para que a covardia seja suplantada.

Trata-se de gritarmos a plenos pulmões que o mundo hodierno não tolera mais imbecilidades anacrônicas como a pistolagem e a velada ou explicita discriminação racial.

Só os ABUTRES comemoram os cadáveres. 

E a pecha de GORILA DIPLOMADO, REQUER RETRATAÇÃO

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Polícia Federal precisa entrar no caso Décio…

Crimes sem solução proliferam pelo Maranhão (img

Há muitas coisas estranhas envolvendo a circunstância do crime e as investigações do assassinato do jornalista Décio Sá, que forçam, por si só, uma entrada oficial da Polícia Federal no crime.

É claro que, não sendo crime federal, a PF só pode atuar como consultora, mas, do jeito que está, parece que a coisa dificilmente andará.

A governadora do estado ainda não se manifestou publicamente. A família de Décio já divulgou carta endereçada à própria governadora, mas não mereceu resposta pública até o momento.

Seus secretários mais fortes – o chamado “núcleo duro” – também silenciam sobre o assunto. E alguns deles eram bem próximos do próprio Décio.

A Secretaria de Segurança fechou-se em copas e não dá satisfações à sociedade.

O crime vai ficando sem solução e, possivelmente, gerando outros.

O assassinato do policial João Santana Lobato, experiente investigador que trabalhava na equipe que conduz o caso Décio foi executado ontem à noite.

A notícia está no blog de Marcial Lima.

A versão oficial da polícia é a de que teria sido latrocínio, já que levaram a moto (que nem pertecencia a ele, diga-se de passagem).

Mas, e se não for latrocínio?

O secretário Aluísio Mendes diz apenas que não vai comentar o caso “para não gerar especulações”.

Ora, especulações são geradas exatamente pela falta e informação…

PS.: Casos menores, ocorridos em outros estados, geraram entrevistas coletivas sucessivas dos governadores e até a demissão de toda a cúpula da segurança. Aqui, gera apenas notas – e muitas delas a contragosto.
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Ensaio sobre gorilas e outros bichos…

Joaquim Haickel em texto lúcido...

Por Joaquim Haickel

Estando eu fora de São Luis e não podendo acompanhar de perto o desenrolar dos acontecimentos posteriores ao ato brutal e covarde ato que tirou a vida do jornalista Décio Sá, comentei, assim que acordei hoje cedo, uma notícia postada em seu blog que dava conta de uma infeliz postagem que o colega advogado, presidente da Comissão de Direitos Humanos da seccional maranhense da Ordem dos Advogados do Brasil, Antonio Pedrosa, fez no blog dele, que transcreverei em parte:

“… Não adianta agora, por outro lado – em nome da justiça que deve necessariamente ser feita – alçar o jornalista/vítima à condição de baluarte da democracia, o que nunca foi.”

Fica uma certa impressão de que jornalista que não seja do ponto de vista do autor do texto, um baluarte da democracia, pode ser assassinado. Que o homicídio deve ser apurado, mas que de pronto fique claro, que ele de certa maneira mereceu o que teve, pois não era um baluarte da democracia.

Ele continua:

“…O crime contra Décio Sá deve indignar, como deve indignar qualquer crime,  sem fundamento em nenhum espírito de corpo, ou privilégio que esconda as mazelas do jornalismo marrom…”

Ao contrário do que sugere a primeira frase, mais uma vez fica uma certa impressão de que o jornalista, que do ponto de vista do autor do texto, seja marrom, deve ser tratado de forma diferente daquele que o autor identifica como sendo azul ou vermelho ou da cor que ele escolha como aceitável.

Agora vem o pior:

“Não derramei lágrimas de crocodilo no velório, no qual não aceitaria confortavelmente comparecer. Sempre discordei dessa linha de jornalismo, que, no Estado, é composta por um pequeno número de gorilas diplomados. Não me surpreenderia se ao cabo das investigações se descobrissem motivos bem menos nobres para o assassinato”.

A quem interessa se o autor do texto se sente mais ou menos confortável em comparecer a um velório? Com toda certeza o falecido não daria a menor bola para sua presença. Era totalmente desnecessário dizer essa grosseira. Coisa feia!

No final ele diz claramente que Décio pode ter sido assassinado por um motivo menos nobre, como se houvesse nobreza em um assassinato, como se matar um jornalista marrom ou um gorila diplomado por um nobre motivo fosse aceitável. Que absurdo!

Discordar-se da linha jornalística, política ou ideológica de alguém é algo salutar.

Inadmissível é que alguém, principalmente um advogado, que está cansado de defender indiciados e réus sabidamente culpados, ainda por cima sendo presidente da Comissão de Direitos Humanos da seccional maranhense da Ordem dos Advogados do Brasil, segregue jornalistas- gorilas de jornalistas-lobos, de repórteres-ratos, de radialistas-cães, de blogueiros-chipanzés, de assessores de imprensa-lebres, praticando assim preconceitos previstos como crimes em nossa constituição.

Eu não estou falando do racismo, como alguns possam imaginar, mas do preconceito quanto a liberdade de escolha no seu mais amplo sentido, pois o jornalista que quiser ser um gorila marrom, pode sê-lo e assumir os riscos de ser assim, mas não pode ser assassinado por isso e muito menos pode ser cerceado de seu direito de escolher ser gorila e marrom, da mesma forma que ninguém pode ser cerceado em seu direito de ser um veado lilás.

Quem se sentir prejudicado pelo fato de ele ser como escolheu ser, que busque na justiça a devida reparação, e que todos nós defendamos o estado de direito a qualquer custo, menos ao custo da aceitação da intolerância.

Posso até admitir que o Pedrosa tenha sido infeliz no que escreveu, que tenha até pensado uma coisa um pouquinho diferente do que está escrito em seu texto, mas infelizmente o que está contido no seu subtexto é algo da maior periculosidade, algo que extrapola os limites do possível na vida em sociedade.

O que é pior é que ao invés dele refletir sobre o equívoco que cometeu, desculpar-se e colocar as coisas de maneira mais aceitável, ele postou em seu blog dois outros textos onde reafirma o que disse antes.

Pedrosa tem que entender que ele não é tão somente ele.

Ele é o presidente da Comissão de Direitos Humanos da seccional maranhense da Ordem dos Advogados do Brasil, secção do Maranhão. Ele nos representa.

Um jornalista pode escolher ser marrom e assumir os riscos de sua escolha.

À uma entidade como a OAB não é dada a possibilidade dessa escolha…