A história política do Maranhão registra a opção de Luiz Rocha, em 1986, e de José Reinaldo, em 2006, de permanecerem no cargo até o final do mandato em nome de projetos pessoais que os levaram ao ostracismo
ESCOLHAS PESSOAIS. Luiz Rocha elegeu um inimigo para atender a um amigo; José Reinaldo usou um inimigo para derrotar o amigo
Se o governador Carlos Brandão (PSB) decidir mesmo permanecer no cargo até o final do mandato, em dezembro de 2026, ele estará cumprindo um curioso ciclo que se repete no Maranhão de 20 em 20 anos, desde a redemocratização do país.
- em 1986 este “sacrifício” foi feito por Luiz Rocha, mas para atender interesses dos Sarney;
- em 2006 foi José Reinaldo quem tomou a atitude, por “vingança” contra o grupo Sarney.
A permanência de Luiz Rocha até o final do mandato, foi uma imposição do então presidente da República José Sarney (MDB) para impedir a vitória do ex-governador João Castelo (então no PDS) na disputa contra o então senador Epitácio Cafeteira (MDB).
Quem conta a história é o filho de Luiz Rocha, ex-senador Roberto Rocha:
O vice do meu pai era João Rodolfo, primo de João Castelo. Castelo rompeu com Sarney, e elegeu a esposa, Gardênia, prefeita de São Luís. Se Castelo tivesse a prefeitura de São Luís e o Governo do Estado, seria eleito governador em 1986. Sarney, presidente da República, tinha compromisso com o MDB, que lançou Cafeteira para governador. Meu pai, amigo do Sarney, se sacrificou para ajudar a eleger um inimigo”, diz Rocha.
O sacrifício de Luiz Rocha o levou ao ostracismo, de onde só saiu dez anos depois, ao eleger-se prefeito de Balsas; e pode ter custado, também, a ascensão do filho Roberto, que poderia ter sido governador ainda nos anos 90.
Vinte anos depois, o então governador José Reinaldo Tavares (PFL) – tido como maior aliado de Sarney – decidiu vingar-se do padrinho político e da então senadora Roseana Sarney (MDB) ficando até o final do governo, usando a máquina do estado para eleger o pedetista Jackson Lago.
- José Reinaldo venceu os Sarney e contribuiu para o início do fim do sarneysismo;
- mas sua teimosia custou caro, e ele, além de preso, nunca mais teve brilho político.
Diferentemente de Luiz Rocha, que tomou a decisão como aliado do grupo Sarney, José Reinaldo havia rompido com o sarneyismo dois anos antes, em 2004.
Na edição de 26 de julho [de 2004], o JP reproduziu na íntegra a histórica entrevista em que Zé Reinaldo detonou o governo Roseana. Por causa dessa briga, o governador Zé Reinaldo, ex-ministro, ex-secretário e vice no governo de Roseana, deixou de ser amigo e aliado de Sarney. Mandou cortar a publicidade oficial da TV Mirante e do jornal O Estado do Maranhão, dirigidos pelo empresário Fernando Sarney”, conta, em retrospectiva, o portal O Informante, do grupo JP. (Leia aqui)
Em 26 de julho de 2024, este blog Marco Aurélio d’Eça fez o paralelo entre José Reinaldo e Carlos Brandão, no post “20 anos depois, Flávio Dino e Carlos Brandão vivem a mesma situação de Roseana e José Reinado…”.
- curiosamente, Carlos Brandão foi fiel escudeiro, chefe de gabinete e da Casa Civil do próprio José Reinaldo;
- e mais curiosamente ainda foi José Reinaldo quem inaugurou a careira política de Dino, naquele fatídico 2006.
Faltando menos de um ano meio para a decisão que pode definir o seu futuro político e mudar a vida dele e de outros, Brandão vive o dilema entre ficar no governo ou entregá-lo para o vice, Felipe Camarão (PT), aliado de Flávio Dino.
Mas ele tem agora a história para consultar, antes de tomar sua decisão.
E avaliar todas as consequências políticas e pessoais do seu gesto…
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