Governador e prefeito gastaram, juntos, nada menos que R$ 90 milhões para tentar fazer frente a Bahia e Pernambuco; a capital maranhense porém, não apareceu nem entre as 10 mais visitadas do país no período carnavalesco

A VERDADE DOS NÚMEROS. Site Decolar.com desmente a megalomania do governo e mostra o fracasso do turismo de São Luís no carnaval
Editorial
A mídia alinhada ao Palácio dos Leões apresentou números gigantes do carnaval nesta quarta-feira de cinzas, 5:
- segundo release da Secretaria de Comunicação, estima-se 3 milhões de pessoas durante os seis dias de folia;
- outro release, também megalomaníaco, diz que foram 700 mil pessoas apenas no show de Wesley Safadão;
- a prefeitura de São Luís preferiu – ainda – não estimar o público do seu espaço, mas também gastou muito.
O site decolar.com divulgou na mesma quarta-feira de cinzas a lista com as cidades mais visitadas durante o carnaval. São Luís não aparece sequer no top 10; Salvador (BA) marcou posição como a segunda e Recife (PE) como a quinta. Para efeito de comparação, São Luís perdeu até mesmo para Fortaleza (CE), que nem tem força no carnaval. (Leia aqui)
“Dinheiro pago a produtores de eventos e artistas nas festas pré-carnavalescas consumiu quase 90% de todo o orçamento da Secretaria de Cultura disponível para o ano todo”, revelou este blog.
Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife se transformaram nos maiores carnavais do Brasil com muito investimento em suas identidades culturais; turista que vai ao carnaval dessas cidades sabe o que vai ver:
- no Rio, as atrações são as escolas de samba e os blocos de rua, gigantes;
- em São Paulo, a mesma identidade – escola de samba e blocão de rua;
- em Salvador, o axé domina exatos 12 dias de carnaval, com artistas locais;
- e em Recife o frevo e os cortejos dia e noite recebem nativos e turistas.
“A principal característica entre eles é a valorização das atrações regionais. Basta observar a programação e constatar que a multidão está consumindo a cultura local daquele Estado, fruto de um trabalho que não começou da noite para o dia, até porque não basta apenas mudar a logomarca de um governo e bradar que tem o maior carnaval do Brasil, é preciso apresentar resultados concretos”, aponta o site “Os Analistas”, em artigo crítico sobre o carnaval maranhense. (Leia a íntegra aqui)

BRANDÃO E BRAIDE COM SUAS RESPECTIVAS CARAS-METADE. Pão e circo para as massas, sem identidade cultural
Até o início dos anos 80, havia o mito de que São Luís detinha o terceiro maior carnaval do país, perdendo apenas para Rio e Recife; naquela época, Salvador já investia pesado em seus trios elétricos enquanto os guetos da cidade formavam aristas dia e noite.
São estes artistas que vêm hoje para São Luís, a custos milionários, em detrimento da cultura local; não mais se vê no carnaval de São Luís os tradicionais blocos de rua, as bandas e fanfarras que se espalhavam por todos os bairros e culminavam com os cortejos no Centro Histórico.
- No governo Roseana Sarney houve essa tentativa de resgaste, com valorização da cultura local e surgimento de blocos e bandas icônicas;
- Bicho Terra, JegueFolia, Bandida, Esbandalha, Cordão do PontoCom são exemplos desta época pujante de imagens em âmbito nacional;
- o governo Flávio Dino também tentou revitalizar esta história, com o circuito Beira-Mar, onde brilhavam estrelas da música maranhense.
Desde 2023, o governador Carlos Brandão (PSB) e o prefeito Eduardo Braide (PSD) decidiram entrar em uma guerra por público sem levar em conta a identidade cultural do carnaval de São Luís, transformando a festa em uma espécie de Marafolia, cópia do carnaval de Salvador.
Em 2025 foram R$ 90 milhões para trazer para cá figuras que marcam o carnaval de Salvador e Recife, além de estrelas da música sertaneja oferecidas em pacotes por agências do setor.
O resultado prático foi apenas o esvaziamento do carnaval do interior. A massa sedenta e alienada até vai aos circuitos, e nem liga para esta identidade, preocupação que as autoridades deveriam ter.
Afinal, tanto Brandão quanto Braide vão passar, mais cedo ou mais tarde.
O carnaval, por outro lado, volta sempre, a cada ano…
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